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Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O tamanho do rabo alheio.

Acho que tudo começa mesmo é na nossa mais tenra idade quando ainda crianças uma vontade inexplicável clama de dentro da alma e a gente grita:
- Manhê!O Dinho ta metendo o dedo no nariz.
O que é que a gente esperava? Será que a gente achava que a mãe da gente iria largar tudo e viria dar uma surra no “Dinho” por conta do tal dedo no nariz? Que prazer mórbido seria este de ver o irmão ser espancado pela mãe por um ato tão banal? Não, não é nada disso. De certo se a mãe aparecesse, o que eu duvido, com um chinelo na mão pronta a atender as nossas expectativas, o primeiro sentimento seria o de arrependimento e o segundo seria o da defesa do próprio “Dinho”.
- Bate não mãe.
Mas no dia seguinte a vontade voltava. O tal prazer mórbido, a tesão de denunciar, de apontar a falha, o defeito, o erro. Isso falsamente faz da gente um pouco melhor do nos julgamos. – Vê? É ele e não eu quem está errando. Falhando, mentindo, traindo, seja lá o que for. – Mas não sou eu. Eu? Eu não. Fui eu quem apontou o erro, portanto eu não erro. Eu sou melhor. Errado. A gente erra sim, erra também. Todo mundo erra e reconhecer os próprios erros deveria ser humano.
Desumano é apontar um dedo imundo na direção de incautos e ver a “máquina” , também desumana, dar chineladas a torto e direito sem ver propósitos, avaliar os interesses envolvidos e o caráter de cada um.
“Macaco, olha teu rabo.” O ditado é ainda mais velho que o tamanho do “rabo” da gente. As falhas que apontamos na infância sem maldade aplicam-se como amálgama no caráter de cada um a depender do tamanho do “rabo”. Do último pedaço de bolo roubado na surdina, do jarro quebrado e omitido, das traquinagens inocentes às falcatruas espúrias, à corrupção e ao favorecimento ilícito gravita a lógica da boa conduta. A dialética dos princípios, a civilidade, a educação de berço, a retidão.
O alcagüete, o dedo duro, esse faz e fará parte do processo ainda por muitos séculos, o diabo é a denúncia vazia ou inútil. Ou útil?
- Mãe, o Dinho ta com o dedo no nariz. E se você bater nele eu vou poder meter o meu dedo, no meu nariz e ele vai estar errado se disser a você que eu tou tirando meleca porque, afinal, o nariz é meu e meleca é minha e mãe...Mãe? Pra que é esse chinelo?
Macaco, olha teu rabo.
Ou será que é preciso mesmo apurar o tamanho do rabo alheio uma vez que ninguém vai olhar para o próprio?
-Senhor presidente, senhores membros desta CPI, senhores e senhoras congressistas, queridos amigos da incorruptível imprensa nacional, aos quais recomendo que o meu lado direito é o meu melhor lado para fotografias, eu afirmo e confirmo, mesmo sem ter provas, que aquele que ocupa agora o trono ao invés de mim está deslavadamente metendo o meu dedo no meu nariz.
Será que não tem ninguém aí nesse país com um bom chinelo na mão?

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