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Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Modelo de que?

Acho que foi no paleolítico que tudo começou. Lá perto dos idos de 103.000, 101.000 anos antes de Cristo, que mesmo com uma linguagem muito rudimentar, num grupo de hominídeos catadores de amoras, uma fêmea muito provavelmente, apontando a companheira de bando com maior capacidade de catar frutinhas, disse pela primeira vez: “Eu queria ser como ela.” Daí há alguns milhares de anos depois, um australopiteco inventou que o bom mesmo era ser pitecantropo, que por sua vez confessou a um tablóide da época que era mesmo fã dos neandertais. 

De lá pra cá as coisas mudaram um pouco mas o espírito continua o mesmo. O ideal estaria sempre um passo acima na cadeia evolutiva. Todo mundo e todo o mundo queria evoluir, coisa até certo ponto muito justa, até que algum marketeiro, muito provavelmente também, inventou que evoluir não era ser melhor, era “ter” o melhor. Estava criada, lamentavelmente, a sociedade de consumo e com essa nova era, surgiam os modelos na sua acepção mais ampla, modelos do melhor para serem seguidos como ideal. Aí não deu mais pra segurar, os ícones se sucederam e a turma foi indo atrás dependendo da divulgação da imagem e a história está aí para provar.
Os gregos inventaram o primeiro desfile de moda lançando sandálias e saiinhas usadas por ricos e pobres e assim saiu Alexandre pelo mundo em suas conquistas virando o padrão de todo um império até ele morrer de inveja dos jardins suspensos que encontrou na Babilónia. Ninguém no Egito tinha a grana da Cleópatra pra comprar aqueles modelitos que ela usava, mas todo mundo pintava os mesmos risquinhos nos olhos enquanto em Roma bacanal era moda em todos as classes sociais. Eram padrões, eram os modelos.
No mundo ocidental moderno Montesquieu, Diderot e Rousseau até que se esforçaram para manter em alta um modelo iluminado mais próximo do verdadeiro evoluir, (A igualdade de todos perante a lei, a tolerância religiosa e a livre expressão do pensamento) até que um dos 23 Luíses, o XV, ponto alto do absolutismo, esculhambou tudo virando estilo, de salto a poltrona. E todo mundo queria ser como ele até a guilhotina cortar o mal pela raiz. Mas a burguesia queria mesmo era o consumo e veio a Revolução Industrial produzindo em série novos padrões para as massas. Coisa de inglês colonizador e imperialista. Seus herdeiros os Americanos do Norte tornaram-se especialistas nesse novo e promissor negócio do padrão a ser seguido. O artifício que nos abestalha como ovelhas é um velho conhecido: O Ícone. Uma pessoa ou coisa emblemática do seu tempo, do seu grupo, de um modo de agir ou pensar. Tudo bem com as sandálias de Alexandre, as togas de César, as plumas do Cyrano de Bergerac, a Cartola de Abraham Lincoln e até mesmo o charuto de Winston Churchill, eles eram os bambas e os simples mortais realmente se sentiam muito melhores ao tentarem se parecer com eles, era quase um processo natural. Não tão natural foi, com a chegada do século XX, o advento do aparecimento dos ídolos, e aqui eu não me refiro aos de pedra mas aos de carne e osso. O ídolo é um personagem que por talento ou comportamento atinge o paladar e transforma-se num padrão a ser seguido. Por consequência tome-lhe topetes de Elvis, lambretas de Mastroiani, meias da Sofia Loren, jaquetas do Marlon Brando e até os cigarros do Humphrey Bogart. Ídolos. Eles usavam o que era moda ou seria moda o que eles usassem? O caminho estava aberto.
No Brasil, pobres de nós, a história foi ingrata. Desde Cabral e sua religião enfiando calções nos Guaranis e moçoilas em bangüês exibindo negrinhos de estimação, até a arrotante Coca-Cola consumida em Big-Brothers, que os padrões de moda e comportamento nem sempre seguiram valores lógicos ou até mesmo morais. Historicamente todos os nossos modelos foram importados. Das Cortes de Lisboa até Hollywood, de Woodstock à Che Guevara, da Discoteca à Rave aceitamos muito e sofremos um bocado, mas fomos levando, comprando e usando o que o padrão determinasse.
Então porque razão dos corpetes à calça Lee, ambos irrecomendáveis para os trópicos, nós aceitamos o padrão? Note que ninguém nos diz que é melhor. Alguém diz que assim, parecendo-nos com nossos ídolos nós ficamos melhores. Dizem que isso nos melhora e que por isso devemos usar e mais ainda, devemos comprar, consumir. A indústria se atrela aos nossos ídolos como nós nos atrelamos a eles e isso é um fato. Tudo bem, o modelo daqui não foge a regra mundial, parece apenas um pouco mais piorado quando a indústria de ídolos é a que mais fatura independente do seu péssimo padrão de qualidade. E isso apavora.
Sem talento ou sem valor real e na maioria dos casos sem moral ou até educação, alguns dos nossos ídolos pré-fabricados são servidos frios e mal acabados enquanto a indústria nacional se lambuza. A sandália agora é a da dançarina despudorada, o cabelo é o do pagodeiro traficante enquanto a modelo, modelo, casa em castelo e arma barraco.
A nós, Homo Sapiens Sapiens, só nos falta agora ver a indústria oferecer o retrocesso de um modelo Cro-magnon.

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