Nota:

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Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

Escolha a dose.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Esperar

Ainda espero você chegar. Quem sabe seja um chegar e ficar? Quem sabe até seja um nunca ter partido. Seja um voltar a estar unidos, sem ruídos, sem doídos, como quem alveja lençóis e os põe ao sol, sem a menor vergonha, onde não há manchas dos passados a macular a relação onde tudo e a tudo foi perdoado.
Espero em vão? Sei não, ou não sei se não, sei lá nem sei. Sei que esperei e continuo aqui esperando tomar sua mão em minha mão e andar ao seu lado como se ao seu lado fora sempre o meu lugar.
E caminhar na praia.
Ver a espuma branca de ondas mornas e suaves escoando entre seus dedos dos pés, barra de vestido molhada em algodão transparente, colo de seios à mostra sem pudor e o pouco cabelo ao vento espalhando a luz dourada de um pôr-do-sol. Sem destino e sem caminho seria só um estar junto no rumo, sem questionar o pra onde muito menos o porquê. Por que? Por que o horizonte desse mar seria a fronteira mais tangente do possível alcançar ao seu lado. Em mim haveria força, risos, competência e talento, pois de você vem a inspiração. De você vem meu viver e meu porquê de ainda estar aqui.
E se você não vier, não voltar, não chegar, não serei mais eu aquele a esperar, serei um nada sem poder te beijar, te tocar e te abraçar. Serei onda sem mar, serei canto sem par, serei só e mesmo só, estarei só a te esperar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Alô?

— Alô? É do céu?
— Diga meu filho.
— Eu queria fazer uma reclamação senhor.
— Entendo.
— É que essa vida não deu certo sabe? No começo até acreditei na propaganda que dizia que eu seria feliz e conseguiria tudo e coisa e tal, mas me enganaram aí. Meu Deus…
— Diga filho, estou ouvindo.
— Não, não, era só uma exclamação mesmo entende? Assim tipo: Meu Deus! Com ponto de exclamação escrito depois…
— Continua vai filho.
— O problema é esse mesmo, não dá pra continuar assim. Minha vida não dá sinal de vida, não completa as ligações sabe? Cai sempre que começa ou então, dá sempre sinal de ocupado. A agenda ta cheia, mas não falo com ninguém, ninguém me atende ou mesmo entende.
— É pré-paga? Você tem crédito?
— Que pré-paga nada. Tenho muito crédito olha ai no meu cadastro. Tou pagando uma conta muita alta senhor. Me cobram coisas que eu não deveria pagar por elas tenho certeza. Queria mesmo era, ao menos, mudar a operadora da minha vida pelo amor de Deus.
— Também te amo filho.
— Ama? Então resolve meu problema aê vai. Minha vida ta um inferno!
— Inferno filho? Muito bem então: No momento eu vou estar transferindo você para o ramal 666. Por favor queira aguardar.
— Alô, alô?
—Tututututututututu…

Deitado

Era antiga na garganta aquela contradição. Aquele sentar-se ao piano e não ser capaz de tocar uma nota sequer aparecera outra vez. A quase familiar falta de sabores, aromas e graças agora estavam mais freqüentes.
Naqueles momentos era como se o preto, ou o nada, fossem suas únicas opções.
Olhar os pincéis limpos, ímpios, distantes da tela imaculada era prova do seu silêncio de emoções. Era o nada e ele a se contemplar.
Não havia tinta na pena, cordas no bandolim e centenas de livros, páginas em branco, observavam o artista oco de si mesmo.
Poemas e canções, quadros e fotografias se espremiam no seu coração calado de inspiração.
— Meu bem? Você não vem deitar? — a voz ecoou num corredor imaginário.
Já havia tempo ele estava só naquele apartamento. Já fazia tempo havia se deitado e já havia tempo que ele não desejava levantar-se.

Graças ao tempo

Dê tempo ao tempo sim,
O tempo é o mais sábio dos fatores da vida.
Só o tempo educa, desvenda e comprova.
Só o tempo cura, desperta e reconcilia.
O tempo é o maior aliado da verdade.

Há o tempo de plantar e o tempo de colher.
De chorar e de sorrir, mas, mais que isso,
Há o tempo de esperar o tempo agir.
Ver o tempo passar é uma arte para poucos,
O saber apreciar o tempo é quase ciência.

O tempo nos mostra se estávamos certos
Ou por quanto tempo fomos enganados.
O tempo ensina a perceber a hora certa,
Ou revela se já é tarde demais.
O tempo renova uma esperança
Ou apaga um sonho.

O tempo pode não lhe dar quem você procura.
Mas vai lhe mostrar quem procura por você.
Pode não lhe dar o que você deseja ter
Mas vai lhe mostrar tudo que você perdeu.
Pois só o tempo separa o passado do futuro
E faz, todo dia, nascer um novo dia.
Um dia com 24 horas. 1440 minutos. 86400 segundos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Avessos

Se me fiz de vitima fui executor,
Se ao ser servo fui senhor,
Se ao dizer sim eu quis o não,
Se por tão menos eu quis mais,
Se guardei a mágoa foi perdão,
É porque além do limite era capaz.

Foi em sorrisos que sofri.
Foi na solidão que me cerquei.
Foi sem despedida que parti.
Foi sim, perdido que encontrei.

Se ao me fazer claro fui sombrio,
Se ao libertar criei um muro,
Se ao dizer nunca, quis talvez,
Se ao pedir venha quis deixar,
Se não repetir fosse outra vez,
É porque o difícil era te amar.

Foi insensível que senti.
Foi em letras que apaguei.
Foi em verdades que menti.
Foi afirmando que neguei.


Se ao menos eu não fosse avesso.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

À porta

Não vá.
Só tranque a porta às suas costas e sorria outra vez. Vai quase me bastar lhe ver sorrir. Toma outra taça e deita. Não diga nada se não quiser e se tiver algo a dizer que seja doce.
Vem volta, volta a ser quem você era, volta a me abraçar e me beijar e me tocar e me fazer feliz. Tira essas malas das mãos, você não tem que levar nada, a única coisa importante é o que você carrega dentro de você, não em malas. Por que partir? Você vai sair assim e me deixar de você só essa última lágrima? Não quero essa lembrança. Não quero esse pior pedacinho de você. Quero você de volta preenchendo todo o meu egoísmo de, assumidamente, ter você só pra mim. Quero sim.
Por favor, não se faça em tiras, em tripas, em nós. Faz de conta que foi um sonho mal que passou que a dor passou que a angustia passou, que o silêncio passou. Faz de conta. Faz alguma coisa, mas faz nem que seja de conta. Só não posso é acreditar que foi você quem passou por mim como se aqui, eu nunca tivesse estado.
Fuma vai, eu deixo.Eu deixo tudo, deixo você beber, fumar, molhar o banheiro, não arrumar nada nunca mais, deixo trocar o canal da TV, engordar até morrer, deixo você se esquecer, deixo sair com sua turma, escolher a vaga pra estacionar, deixo você roncar, deixo não elogiar, deixo até me maltratar. Mas não posso deixar você me deixar.
Uma última taça então? Uma última dança? Um último beijo? Um último minuto? Segundo?
Não vá.