Nota:

Minha foto
Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

Escolha a dose.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Feios e gordas

   Era um shopping como todos os shoppings e pessoas como todas as pessoas passavam e passeavam ali.
   Mas tinha aquele cara sabe? Estranho, feio, mal-arrumado, tosco.
  Faltavam-lhe os cabelos, um dente do lado da boca, sem brilho nos olhos, sem pose, faltava-lhe presença. Parecia um antigo CDF que não chegou a ser nada na vida. Uma estória de insucessos, um fracasso vivo quase sem estória alguma.
   A camisa barata, de estampado duvidoso, lhe saia pelas virilhas, calça bege amarrotada, tênis usados e sem brilho. Da mão pedia-lhe uma capanga, juro, capanga, aquelas carteiras grandes de courvin com uma alça ao pulso e um relógio escrito ADIDAS. Falsificado.
  Como cacoete, empurrava, com o dedo longo, um óculos de armação grossa e preta sobre o pau do nariz, enquanto apertava os ohos olhando vitrines recheadas de itens inatingíveis pelo parco poder aquisitivo.
  O homem ignorava a moda, a classe e a elegância. O magro, careca e baixinho, ainda não tinha dito não é? Pois é, era baixinho sim. O tal, movia-se com determinação naquela catedral do consumo ao passo que eu, eu? Bom, eu o seguia. Descemos escadas e escadas, todas rolantes, e me sentindo um príncipe, bonito, cheiroso e feliz, eu o julgava como se julgam sempre todas as pessoas quando e como sempre se avistam: Eu o  julgava pela aparência.
   Meu alvo de escárnio sentou-se impaciente numa mesa de fast-food mal cabendo os joelhos debaixo da mesa. Olhava aos lados ansioso até.
  Pobre coitado pensei. Que infeliz. E pior ainda, vai servir-se, no bandeijão, de arroz, feijão, bife e macarrão. Talvez um ovo frito.
  Qual nada. O que eu julgara ser mais um momento imperceptível pela humanidade da sua própria solidão, como sina, diante dos meus olhos, transformava-se num sorriso largo de comercial de margarina. O dele, o sorriso dele sim transformava a cena.
  Pasmo vi, por entre as mesas de fórmica chumbadas ao chão, que, sem a menor desenvoltura, caminhava ao seu encontro a gorda mais bizarra que minha mente “criativa” poderia descrever. Agora pense numa gorda do tipo bem suada ?
   E ela vinha e vinha enquanto o sorriso dele, careca e sem um dente, se alastrava pelas alamedas do shopping. Foi mais que apenas dois corações se esbarrando.
   Foi um tal de “que beijo meu Deus”, um tal de “ave maria que abraço”, um tal de que encontro tão bem marcado de celebração à felicidade. Foi a cena de todas as cenas. Como final de filme de Hollywood.
   Eu, todo fashion e todo só, olhei a vitrine da ZOOMP onde uma calça linda, cara e também solitária me encarava e conclui: Feio se apaixona sim e gordas também gozam.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Alfabetizando

Sem dar não se recebe:
Amizade, bondade, carinho, desprezo, espetada, força, guarida, honestidade, importância, jura, lealdade, motivo, negligência, ombro, porque, queixa, reconhecimento, solidariedade, tesão, união, verdade, xamego e zanga.

No xadrez

Me sinto um cavalo de xadrez. Enquanto todos andam em linhas retas, eu sempre dobro a direita ou a esquerda no meu caminhar. Sina de quem sonha ou procura novos caminhos.

Sem futuro

Sonho em ser comentarista de futebol. Sem suar a camisa, revejo o passado e emito opinião após o fato sem ser culpado de nada. Confortável e sem previsões.

Perceber

Até mesmo o cão, um dia olha a galinha assando na vitrine e pensa: “A partir de hoje você ainda me encanta, mas não mais me ilude.”

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Carros de boi

    Invejo tanto a calma daqueles que tocam carros de boi.
    Os vejo passar nas ruas colhendo lixos, papéis, ferros-velhos.
   É uma argola, uma corda, um par de chifres, cangalha. Atada ao animal, uma carroça abarrotada de trastes desprezados pelos abastados, agora recolhidos e renascidos na esperança de um homem que anda descalço. Passos calmos, pés no chão, vara ao ombro.
   Por Deus, é uma calma tão sábia a calma desses homens; a calma do andar atrás da rês, que se faz ao lado de quando em vez; mas é atrás que anda. Não lhe encanta ser o primeiro, sabe que o seguir é o certo e caminha sem presa. O canto rangido, de rodas e eixo do carroção, é a expressão sonora e sem nexo do remoer de seus pensamentos, nada profundos de certo e sem maiores consequências. São só pensamentos. 
  O privilégio da ignorância os faz infantis em meio trânsito louco que se move em minutos, ao passo que, no seu passo, tudo são horas e horas de caminhar. Numa parada, recolhe mais uma esperança jogada nas ruas, acende um cigarro barato, de fumo ruim, e resona grave na garganta um “Booooi” respondido de pronto pelo andar do animal. 
  São senhores meninos. São sábios calados. São vidas lentas de silêncio e caminhar, de homens das ruas que tanto invejo; sem saber se invejo a calma, a sabedoria ou o poder de recolher esperanças desprezadas.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Por Cora Coralina

    Vive dentro de mim 
uma caboclo velho 
de mau-olhado, 
acocorado ao pé 
do borralho, 
olhando para o fogo.
 Benze quebranto. 
Bota feitiço... 
Ogum. Orixá. 
Macumba, terreiro. 
Ogã, pai-de-santo.
 Vive dentro de mim
 o verdureiro sem futuro. 
Seu cheiro gostoso 
de verde e terra. 
Unhas imundas. Marcas da enxada na camisa rota. Sua fé cega em Santo Expedito.

   Vive dentro de mim 
o homem ao pé do fogo. Cozinha como cozinha. 
Quitute bem feito. 
Panela de barro. 
Taipa de lenha.
 Cozinha antigo 
todo pretinho. 
Bem arrumado e cheirando a pó. 
Pedra de ralar. 
Cumbuco de coco. 
Pisando alho-sal.
   
Vive dentro de mim 
o homem do povo. 
Bem proletário. 
Bem linguarudo, 
desabusado, 
sem preconceitos, 
de casca-grossa, 
de tamancos 
e filharada. 
Vive dentro de mim o homem da rua. Enxerto de asfalto, trabalhador. 
Madrugador. 
Analfabeto. 
De pé no chão. 
Bom fudedor. 
Bom de meninos. 
Seus doze filhos, 
seus vinte netos. 

   Vive dentro de mim o cabra safado. 
Meu irmãozinho 
tão desprezado, 
tão murmurado.
 Fingindo ser alegre 
seu triste fado. 

   Todas as vidas 
dentro de mim: 
Na minha vida - 
a vida mera 
dos obscuros.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aos mais fracos

P.S. – Amo até os dedos mindinhos. Acho que é tendência minha sempre amar aos mais fracos.

Alegria tatuada

Me cansei da tristeza. Não a quero mais. O problema é que acho que a felicidade anda cansada de mim.
Tenho que me reencontrar com a alegria de qualquer jeito e voltar a sorrir nem que tenha de tatuar dentes escancarados na minha boca.

Fim do dia

O teclado feito em inverno desmaia em mim sem sabedoria. Cada tecla é uma lápide de palavra não construída e de emoção não sentida. Desinspirado, fica a dúvida do que faria, fica a certeza que acabou o dia.

Dentista

Há pessoas que deveriam estar eternamente no dentista. De boca aberta e sem poder falar nada.

Tem horas

Horas eu quero meu passado de volta, horas não o quero mais, acho que prefiro apenas visita-lo vez ou outra. Morar nele é que não dá mais.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

E eu

– Oi, tudo bem? Como vai?
– Oi, na verdade não ando muito bem sabe? Os dias me têm sido amargos e tristes.
– Nossa menina nem me fale. E eu? Menina eu ando numa maré de azar sabe? Acordo mal, enjoada, cansada e sem graça pra nada entende? Não consigo dormir, meu intestino não funciona direito, sofro, sofro, sofro, mas não adianta. E pior, agora meu vizinho escuta música nas alturas o dia todo, imagina a dor de cabeça que me dá? Não tem analgésico que resolva. O maridão, já sabe né? Nem tá ai minha filha. Eu que não corra atrás de cuidar da casa, menino, cachorro, contas e contas pra pagar. Sabe outro dia? Passei duas horas na fila do banco pra tirar saldo.Já viu né? Trabaaaaalho feito uma desesperada e no fim do mês..Cadê? Não é fácil amiga. Olha, agora então me apareceram umas manchas na pele, parece coisa de gente velha não é? Mas não é não menina, é stress. Ave Maria amiga, se Deus tivesse piedade me dava uma ajudazinha. Nem na loteria eu tiro pra me fazer feliz. É sina ou praga de gente invejosa, é verdade. Mas conta menina, e as novidades?
– Novidades? Nenhuma. Tudo normal, normal. Sabe como é a vida não é amiga?
– Sei sim, beijos querida, te cuida viu?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Olá

Não creio em pessoas que te abraçam, sorriem e dizem:
“Olá querido”. Desconfio do querido e não não dou créditos a “olás”. Fico com o velho “como vai você?”.
Direi honestamente, "vou bem, obrigado".

TV

Não comento e não reflito sobre cenas na TV. A TV nunca mostra as cenas reais que se vê, nem lhe oferece a dádiva da reflexão.

Cuspa

Se algo arranha sua garganta cuspa. Está provado que tentar ficar engolindo não faz passar.

Por ter

Quando eu tiver um porque dormirei,
Quando eu tiver uma dor chorarei,
Quando eu tiver um amor amarei,
Quando eu tiver um plano sonharei.

Se eu tivesse chance dormiria.
Se eu tivesse lágrimas choraria.
Se eu tivesse amor saberia.
Se eu tivesse coragem sonharia.

Que eu tenha sono fácil.
Que eu tenha sorrisos plenos.
Que eu tenha ciência do amor.
Que eu tenha sonhos.

E que eu os sonhe.

Amar sem pressa

Um dia acreditei
que sonhos, todos eles, se realizavam,
que crianças não morriam,
que o céu era realmente azul,
que haveria sempre um sorriso te esperando,
que ninguém se machucava ouvindo a verdade,
que com muita saudade os tempos voltavam,
que com muito desejo a gente ganhava um beijo,
que estando certo ninguém diria o contrário.


Acreditei
que teria crédito pelo que faço,
que teria amparo nas minhas dores,
que rezar adiantaria,
que coisas boas não se esquecem,
que gestos são importantes,
que fatos contam mais que versões,
que a confiança era sempre mútua,
que era bom ser honesto.


Acreditei sim
que a lua me ouvia,
que os bichos falavam,
que o mundo era pequeno,
que havia céu,
que o céu era bom,
que o bom era o bem,
que o bem era meu,
que meu bem era o céu.


Um dia acreditei porque o amor tinha pressa.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lições

   Seu Manuel era leiteiro. Isso mesmo: Leiteiro. Coisa do tempo em que leite era entregue nas portas, derramado de tonéis de alumínio nas jarras levadas por ávidos clientes no amanhecer suburbano. A cena era bucólica sim. Aos sons de Papa-capins, Tizius e Sabiás, parava à porta das casas um velho Ford, verde e preto, tipo perua, donde sairia um também velho senhor, cabelos brancos raspados à máquina número dois, cinto de couro roto atado por milagre à cintura, velhas botinas cansadas, camisa de quadros sertanejos e a exibir uma suspeita barba branca, sempre por fazer, como se aquele homem repousasse o queixo em farinha alva todas as manhãs.
   Seu Manuel fedia. Fedia muito ao leite azedado e impregnado nas poucas vestes dia após dia. Enquanto moscas se açoitavam nos vidros da perua, na tentativa inglória de um repasto matinal, o diesel queimado, o leite e seu Manuel em si, agrediam a suave e gentil brisa de uma manhã pueril ao som de passarinhos. No fundo era repugnante. Mas, Seu Manuel sorriria e isso, além de apagar o incômodo, encheria o ar de alegria.
   – Bom dia rapaziada da canela suja! – exclamava como se pela primeira vez o fizesse.
   Nós, garotos simples e mal mimados, que sentados aos muros aguardávamos o leiteiro todas as manhãs, sorriamos de volta e em algazarra, o cercávamos de mimos como se ele fizesse chover Drops Ducora.
   – Quantos litros quer a mamãe hoje? – perguntava – Foram bem nos testes de matemática? Menino andas a matar passarinhos de estilingue? Opa! Não lavas bem estas orelhas ó putinho? Tu ralhastes com tua irmã ainda ontem pimpolho?
   Seu Manuel parecia adivinhar o nosso modesto cotidiano com uma precisão de quiromante. Como ele sabia de todas aquelas coisas? O velho português era um adivinho? Sorria e olhava nos olhos da gente, mais ainda, olhava dentro da gente. Seu Manuel sabia nossos segredos. Todos eles.
   Só nós, garotos espertos, pré-amadurecidos na necessidade da sobrevivência, tínhamos a resposta: Seu Manuel fingia ser leiteiro, aquilo era um truque dele. Mesclado em todo aquele quadro desagradável de cheiros, moscas e estocadas nos nossos segredos, pois, até mesmo sabendo que de leite mesmo nenhum de nós gostava, ele disfarçava.
   O segredo real era o nosso, todos nós sabíamos e não revelávamos: Seu Manuel era na verdade Papai-Noel, que se disfarçava de leiteiro para nos testar durante todo o ano na espera de uma melhor avaliação, para fazer justiça na decisão final a cada Dezembro: Receber ou não, o presente esperado.
   Cínicos, sempre tratamos bem Seu Manuel. E sempre fomos bem avaliados, pois mesmo modestos, nunca nos faltaram presentes no Natal.
   Cresci. Crescemos todos não? Não sei bem.
   Também não sei bem em que momento da minha vida Seu Manuel desapareceu. Mas, ficou uma lição: Não a de não tratar bem a alguém a espera de ganhos, mas sim, a de vez por outra, me fazer passar por leiteiro.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Correr atrás

   A bolinha de papel voou sobre alguns alunos atingindo o alvo. Imediatamente Camila virou a cabeça, olhos em busca dos olhos da melhor amiga. Era sempre assim quando Malú precisava lhe falar urgentemente. Não dava para esperar o recreio.
   – (Amiga, so-cor-ro, mes-tru-ei.) A leitura labial, precisa e bem praticada, completava a comunicação silenciosa entre as duas.
Soou a campanhia e ambas saíram em disparada. Era no banheiro das meninas, na hora do recreio, que a amizade entre as duas se solidificara.
   – Você não está de Modess? Você é doida? Tá toda melada, olha que meleca!
   – Não sabia que ia chegar, não tou acostumada ainda com isso. E agora? O que é que eu faço?
   – Pera Malú que eu te ensino – A prática da Camila era surpreendente sempre. Dois dedos da mão direita, dois dedos da mão esquerda, papel higiênico bem enrroladinho e estava pronto o absorvente artesanal e providencial. – Esse tamanho tá bom?
   Era sempre assim, a mais novinha recorrera por toda a adolescência aos préstimos da melhor amiga do mundo para tudo. Camila era o farol de Malú.
   – Amiga ele me pediu um beijo na boca hoje. E eu vou dar. Mas como é que eu faço?
   – Simples. – sempre prática – Você abre um pouco a boca, não muito e vira a cabeça pro lado. Ai beija.
   – Lado direito ou esquerdo?
   – Qualquer lado Malú, poxa vida!
   – E se ele virar pro mesmo lado? Não vai bater o nariz?
   – Ai você vira pro outro droga! E ai você poe a lingua na boca dele e ele poe a língua na sua boca.
   – E eu faço o que com a língua dele dentro da minha boca?
   Camila faria uma cara de séria.
   – Ai Malú como você é devagar menina. Primeiro beija amiga, depois é só correr atrás dos seus sonhos.
   Os anos passaram, as vidas caminharam e caminharam sem mais se encontrar, até o Orkut as reunir outra vez.

Camila do Amaral Pestana
aniversário: 18 de outubro
interesses no orkut: amigos, paquera, balada,
estado civil: Já casei e não gostei, SOU LIVREEEEEEEE!!!!
filhos: Dois do primeiro e um do segundo, é mole?
etnia: não entendi a pergunta
religião: loge de mim
fumo: sim
bebo: muito
quem sou eu: Sou quem sou e meu futuro é agora. Odeio planos. Não creio em fantasia nem perda de tempo.

Maria Lúcia (ou só Malú)
aniversário: 11 de março
interesses no orkut: contatos profissionais
estado civil: casada
filhos: Alexandro 12 anos, Matheus 13 anos e Camila 5 aninhos
etnia: minha alma não tem cor
religião: Somos católicos
fumo: não
bebo: nunca
quem sou eu: me acham assim... uma pessoa meio devagar, mas como uma amiga muito querida me recomendou, um dia vou correr atrás dos meus sonhos.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mudanças

Quando é preciso mudar, o que importa não é a velocidade em que as coisas mudam e sim a direção que se quer tomar.

Só errando

É errando que se aprende

Que crescer não é ficar mais velho,
Que o calar as vezes é resposta,
Que trabalhar muito não é produzir muito,
Que só se ganha amizade oferecendo a sua,
Que o belo por vezes é o mal,
Que se aprende uma lição de cada vez,
Que há tempos tristes mas não vidas tristes,
Que na alegria, um dia vale uma vida inteira,
Que conhecimento não é sabedoria,
Que não se deve esperar por nada,
Que os tolos são mais felizes,
Que nos enganam mais aqueles a quem amamos,
Que o passado é para lembrar e não reviver,
Que não há experiência vivida que nos prepare para mais um dia,
Que amar não é se anular,
Que só quem nos pode dar lições é o tempo,
Que pessoas entram na nossa vida por acaso,
Que pessoas não permanecem em nossa vida por acaso,
Que o medo bloqueia a alegria,
Que se deve exigir mais de si e menos dos outros,
Que é você que escolhe suas cores,
Que apenas tentando acertar é que se erra,
Que antes mostrar ou falar é preciso ver e ouvir,
Que se deve ser feliz mesmo sem motivo,
Que um ano bom não vale um dia perfeito,
Que esquecer as vezes é uma necessidade,
Que se deve sempre topar andar em frente,
Que não se deve nunca parar diante de uma topada,
Que pode sim viajar às estrelas,
Que quem diz amar por toda vida está a viver sem amar,
Que não há aplausos quando a vida acaba,
Que dar carinho nos cura,
Que assim como a flecha, oportunidades não voltam,
Que somos livres em tudo,
E que Deus a nada proíbe.

No infinitivo pessoal

Já vesti tempestades,
dancei sorrisos,
engoli felicidades
e ergui abismos.

Provei ruídos,
bebi maldades,
troquei sentidos
lavei saudades.

Cansei bondades,
chovi caminhos,
pintei vontades
casei sozinho.

Já dormi silêncios,
feri magoados,
amei vestígios
escrevi passados.

Por contradizer eu,

por contradizeres tu,

por contradizer ele,
por contradizermos nós,

por contradizerdes vós
,
por contradizerem eles,
é que me contradigo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pedaços de silêncio

   Tinha dela o bom dia, o sorriso fácil, o gesto largo e o compartilhar de problemas cotidianos. Assim, ele se fazia parte dela e assim, tornava dela pequenos instantes do seu próprio viver. Era útil e necessário, no compromisso diário, de unir momentos no sabor eventual de viver uma vida só. Vida à dois saboreada em pedacinhos só deles dois.
   Foi quando ele a disse que queria um pedaço maior de sua vida, ali ele estava sim, se dando por inteiro.
   Mas ela não disse nada.

Harmonia

A convivência pacífica e harmoniosa, onde tudo acontece bem, está a um passo do tédio.

Acredite

Houve um tempo em que meninas de 13 anos brincavam com bonecas e não havia tantas loiras.

Silêncio

Há vezes em que a palavra não dita fala mais que todos os versos ainda por se escrever.

Como borboleta

Veja o amor assim como vê as borboletas.
Nunca corra atrás dele, e sim cultive seu jardim para que ele venha até você.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Por amor

Dizer “não”, dizer “você está errado”, dizer na lata “poderia ser melhor”, olhar nos olhos e falar “você pode melhorar”, é, no fundo, um ato de lealdade. Prova de amor.

Guarde a pá

Sempre dói na alma cavar certas lembranças. E há quem não acredite!

Dias tortos

Há dias tortos. Há sim.
Mas há dias sem filas, de semáforos verdes, de chefes amigáveis, de boas manchetes, de ouvir música antiga, receber carta de primo, de comer pão quente e de piada nova. Há dias de não errar o caminho, de gente que não atrasa, de ganhar presente surpresa, de sinusite calma, de não ter sono de dia, de passarinho não cagar no vidro do carro, de não faltar luz, de achar uma coisa perdida, de lhe devolverem um empréstimo e de perdoarem sua dívida. Há dias de não dormir sobre o braço, de achar vaga no shopping, de não encontrar nenhum chato, de garçom atender bem, de achar dinheiro na rua, voltar namoro acabado, de polícia não dar a multa, de internet não dar pau, ser convidado pro almoço, dia de não ter ressaca e dia de não ter ciúmes. Há dias de pele boa, de sapato confortável, de receber aumento sem pedir e de pedir e receber, de ouvir um monte de sims, de certo, ou tá certo, de ouvir eu também acho, dias de ouvir até: Sim, você está certo, eu também acho.
Adoro esses dias. Mas que há dias tortos, há sim.

Analgésico

   O seu abraço era um sonho tão perfumado, quanto são perfumadas as lembranças de uma infância feliz.    Tomava assim, o seu abraço cheiroso, tendo ganas de fechar portas e janelas para que durasse mais.
   Aumentava o aperto do braço sobre os ombros, colava o rosto um tanto mais, dava-lhe a cintura. Sentia as coxas de ambos trocarem segredos e promessas enquanto aqueles, alguns segundos de sonho abraçado, extendidos até o limite tolerável do socialmente aceito, aparentasse ser apenas um abraço. Mas não o era.
   – Durma bem – ele diria.
   – Você também – ela diria.
   O sabor das quatro palavras ficaria escrito nas paredes.
   Morreria em “ais”, enquanto caminhasse até sua casa, guardando mais o quanto ele a encantava, do que o quanto ele a maltratava com o silêncio.
   Não seguiria reto. Não andava a lhe encantar a retidão. A dúvida, essa sim, andara a ser a sua nova companheira.
   – Quando seremos? Como seremos? O que seremos? – pensaria.
   E longe, seus olhos choveriam marés de saudade e desejo, mesmo sabendo que dentro dela, ele a doía um tanto assim. E doeria até uma próxima despedida, quando um novo abraço analgésico, enchesse seu coração de alegria.

Preste atenção

   Preso no engarrafamento dei-me a observar a rua e seus habitantes. Gosto de me pegar fazendo coisas e me dar conta de que as estou fazendo, é quando meu fazer apura meu sentir. Assim, ciente do observar, construo conceitos sobre o que vejo:
   O cara à frente deve ter um péssimo gosto tirando pelos adesivos colados no vidro do carro, o suado moreno gordo, bolso da camisa cheio de pedaços de papel e que tenta atravessar a rua é daqueles que está sempre atrasado, a estudante sequinha de braços fraquinhos para tantos livros, certamente sonha com o sucesso, um dia, ou ao menos, por um dia. Apavorada no caos urbano, uma talvez mãe, trás duas crianças pelas mãos, ela toda arrumadinha e cheirosa, ele, todo descabelado, boca lambuzada de doces. Ela a queridinha, ele o danado.
     Casas, prédios e estabelecimentos comerciais também traduzem certas sensações:
   Não há muito escrúpulo num dono de farmácia que oferta, em faixa de murim, anti-espasmódicos como necessários enquanto a placa, pensa e faltando letras, na porta da papelaria traduz a qualidade do material didático que vende. Os reclames fajutos pintados no muro da escola me fazem também pensar no que realmente eles ensinam ali dentro.
Interpretações, impressões, conclusões.
   Há enganos também sabe? Olhando aquelas casinhas brancas, siamesas por economia, aquelas que os militares ocupam quando são transferidos para nossa cidade, sabe de quais estou falando, não é? Elas são assim... sem personalidade. Nenhuma cor, nenhum jardim, nenhum quadrinho de mal gosto nas varandas esquálidas. Não possuem sequer uma caixa de correio criativa ou até mesmo um vira-latas a latir no portão para lhes emprestar identidade. São casas iguais, de telhados iguais, de muros iguais. São casas tristes.
   Mas desce então do coletivo barulhento um farto sargento do Batalhão de Infantaria de Selva, para quem de nada adianta a camuflagem recortada no muro branco de uma casa tão igual. Uma das casas tristes. Na calçada, mal contendo os sorrisos, uma farta esposa de um sargento do Batalhão de Infantaria de Selva, abre braços amplos antecedendo o caloroso abraço.
   O engarrafamento não andava e a cena do casal, agora já se beijando em plena via, mostrava meu engano.
    Más interpretações, más impressões, más conclusões.
   É o olhar da gente que cria a imagem e não própria imagem em si. Não é possível enxergar adiante quando nos basta apenas o ver.
   As vezes parecemos casinhas brancas, tristes e iguais. Mas certamente podemos abrigar um mundo colorido, alegre e único. É só prestar atenção.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

De cada um

Atrás de cada um a sempre outra pessoa e atrás de cada pessoa há sempre um sonho ou um interesse.
Fico com os que sonham.

Futuro

Há pessoas que vão longe, outras, vão até a esquina, compram pão e voltam à sua mediocridade.

Pensar grande

Pense grande. Se você tiver de vender alguma coisa, venda navios.

União

A União não faz a força. A União faz a... çucar.

Verdades

Há mais verdades em meia garrafa de bourbon do que numa sala cheia de amigos.

Vício

Deixar de fumar é uma tentativa estúpida de preservar o corpo quando a alma já está perdida.

Por sonhar

Nenhum coração deveria ser punido por perseguir seus sonhos. Querer o próprio bem não é egoismo, é amor próprio ou auto-preservação.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Cansei

   Para quem prefere as unhas ofereço o toque, troco a mordida belo beijo, o chorar pelo sorrir, o enfrentar pelo partir.
   Não me tragam novas batalhas, já me bastam as que tenho e travo comigo mesmo.