Nota:

Minha foto
Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

Escolha a dose.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Bons negócios


Investir bem não é comprar boas ações mas sim comete-las.

Só na nata

Se a gente soubesse viver apenas na superfície do viver e não tivesse essa mania estúpida de se aprofundar nas coisas e em tudo que faz, talvez, não se doesse tanto.
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SETUP

Ando me tornando óbvio, fácil demais de entender e conduzir.
Preciso urgentemente encontrar um jeito de trocar minhas senhas.

Ardil

   Se para ganhar atenção, ser ouvido, ser valorizado; se para se sentir prestigiado, útil e agradável, se para ganhar um carinho, um mimo ou um presente, até mesmo das pessoas que mais te amam, você precisa usar de técnicas, estratégias ou subterfúgios, das duas uma: Ou você realmente não o merece ou não sabe dar o real valor que essas coisas têm.
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Errata

   Às vezes construímos grandes sonhos em cima de grandes pessoas.
Com o passar do tempo, descobrimos que grandes, eram apenas os sonhos e as pessoas pequenas demais para realizá-los.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Vampiro da alegria

Em seus momentos de tristeza ele catava alegrias alheias. Discretamente as roubava à distância, sem mesmo ele, o ladrão, perceber que o fazia.
Roubava o sorriso de um pai que ensina o filho a soltar pipas. Se apropriava do beijo displicente, dado na boca, pelos namorados. Colhia a conversa, divertida e sem compromisso, da família reunida no café da manhã. Furtava o carinho da netinha dedicado às veias cansadas na mão do avô. Raptava o encanto das moças, a provar sapatos novos nas lojas da cidade. Surrupiava o abraço contemplativo do casal diante da reforma da casa concluída.
Quando encontrava a tristeza, era ele próprio o patrono da alegria, pois agindo assim, alimentaria a si mesmo.
Seguiria saqueando a alegria dos outros, em outros mundos que não eram seus, até perceber que a felicidade só é plena, quando você também faz parte daquele momento e aquele momento, faz parte de você.

“Solidão não é chorar sozinho.
Solidão é não ter com quem sorrir.”

Wave

E lá vem mais uma dessas horas repletas de memórias. É como uma onda enorme, daquelas de arrancar o biquíni, que a gente fica sem ação vendo ela chegar. E o diabo é que, no caso da memória, a gente não tem praia pra onde correr. Não tem lugar seguro. A onda vem e vai arrancar seus pés da areia, te embolar, te virar de cabeça pra baixo e te encher a boca de areia. Então não tente enfrentar que vai ser pior.
A única saída e mergulhar fundo. Bem fundo.
Senta, abre uma garrafa, acende um cigarro e lembra. Deixa a lembrança te preencher por que não tem jeito mesmo.
Aí, só depois de sorrir ou chorar, nada pra superfície e tenta tomar ar.
Pronto passou.
Eu vou passar também e você, bom, você continua me vindo em ondas como essa. Mas vai passar também.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Com certeza

   Comprovar uma traição, ao contrário do esperado, deve provocar conforto ao traído e não a dor. A certeza, é na verdade, o refrigério da alma.
   Também deve-se ter um certo alívio, um poder respirar melhor, quando a gente tem provas de que alguém é realmente um canalha.
   Até a comprovação, canalhas e traidores gozam da complacência de nossas dúvidas.
   Que venham as certezas então.

Pense bem

Não é só por que o mundo não percebe suas virtudes que você é obrigado a mostrar apenas os seus defeitos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Bom de boca

   Tenho pena de pessoas, que assim como eu,
não sabem entender olhares.
   Seria muito melhor se olho tivesse boca e falasse logo.
  Taí! Já com bocas eu me dou melhor, elas falam, mordem ou beijam, sorriem e, o que muito legal, sabem fazer caretas.
  Viu? Você fez uma careta com a boca aí, não foi? Foi? Eu entendi.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Fastio

   Quando o amante está distante aguça-se o viço, aquenta-se o desejar. O hábito cotidiano do amar provoca um fastio, igual ao de quem dorme às tardes de domingo depois de uma feijoada.

Somos

Essa coisa de praticar o bem apenas por temer o castigo divino, sabendo que se o fizermos teremos a recompensa na vida eterna, prova o quanto cínicos e canalhas somos nós os humanos.

TPM

Sensível que chorava só de assistir a comercial de Natal do Bradesco. Nostálgica que remoía saudades da colega de escola, cuja que odiava na segunda série. Efêmera na cama, sem nem paladar para apreciar o cheio do velho lençol de algodão. Cáustica no arengar com a vida alheia. Dramática. Inacessível aos homens como quando em tempos onde contraiu catapora. E um ódio mortal da humanidade, a qual imaginava espreitando-a pela janela entreaberta.
Findo o fluxo de Estrógeno e Progesterona, a vida seguiria em paz.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pra quem entende de caixinhas

   E havia aquela menina que amava caixinhas. Não podia ver uma caixa bonitinha que logo a tomava para sua coleção.
   Havia caixas de todos os tipos: de madeira trabalhadas à mão, de papelão decoradas com fitinhas, caixinhas de vidro, bem delicadas, caixas antigas e herdadas, algumas bem roubadas de outras colecionadoras de caixas e até certas caixas para presentes ela guardava para si. E assim vivia e era muito feliz com suas caixas mas, morria de medo que alguém as roubasse.
   Um dia, de tanto medo de perder suas preciosas caixinhas, ela trancou-se no seu quarto sem querer nem ver ninguém. E ficou lá sentadinha, ela e suas caixinhas, até perceber que o quarto era também uma caixa.
   – Poxa! – pensou – Eu e minhas caixinhas, estamos dentro de uma caixa   enorme.
   E foi aí que ela parou, levantou, pensou e pensou, olhou para suas caixas e começou a abrir todas elas. Desolada, ela percebeu que não havia nada dentro delas: Todas as caixinhas e também ela, a menina, estavam vazias.
   Dizem que hoje ela mudou de ideia e passou a colecionar amigos, cheios de coisas para dividir com ela. E ela, tem o peito cheio de alegria. 



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Em tempo

    Cultivar inimigos é uma arte muito simples na verdade, coisa que qualquer um consegue: É só imaginar ou inventar que alguém é seu inimigo, atribui-lhe os piores pensamentos contra você, manter a pessoa distante e evitar o proscrito pelo resto da sua vida. É fácil e você pode ter um monte deles.
    Com a amizade a coisa fica mais difícil, não é pra qualquer amador a arte de fazer amigos. Não mesmo: Primeiro necessita de muita prática. Ei! Não entenda que necessita de experiência, não é isso, estou falando de prática no sentido de praticar a amizade. Vou explicar melhor: Cativar. Pronto é essa a palavra. Amizade se cativa, se cultiva, se constrói. É coisa que a gente tem de fazer no dia a dia. E não me falem dessa história, que tem amigos que nem se falam e nem se veem, mais ainda continuam amigos como eram. Mentira. A gente quando não alimenta a amizade ela morre.
    Sou do tipo “grato por ter amigos”, poucos, mas os que tenho cativo para não perde-los amanhã.
    A amizade põe olhos no futuro.

“O que uma verdadeira amizade pode nos oferecer de melhor, depois de tudo, é um grande amor; e, de pior, a saudade."

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Com sigo

   Sei de coisas minhas que nem eu mesmo deveria saber. Tenho dó de mim por não me guardar silêncio, por não me omitir os comentários, por não calar os pensamentos.
   Sei de coisas que não gostaria de ter tido o conhecimento, evitando assim, o sofrimento. Por apenas saber, já corro o risco da dor, não de fora para dentro, mas de dentro para mais dentro ainda.
   Sei de coisas que não deveria. Soam como prova do meu próprio despreparo para conviver comigo mesmo, a minha inexperiência, a minha fragilidade e esse saber inútil.
   Assim, empilho palavras para compor esse meu silêncio, sempre tardio, como se tardio fora sempre o meu falar.
   Um dia direi tudo isso a alguém para que nunca mais, tenha que ouvir isso tudo de mim mesmo.

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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Senha

Entrou na fila do amor mas, ela seria a última garota da fila.
Preferiu então pegar uma senha e sentar-se a esperar.
Tão triste e entretida na sua dor, não viu seu número ser chamado.
A última vez que eu a vi ela ainda estava lá, sentada,
esperando a senha.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Escreva-se

Ninguém aprende lição alguma se tudo lhe é ditado. A palavra dita é apenas a palavra alheia. Escreva seu próprio verbo com seu próprio punho. Escrevendo certo ou cometendo erros você aprende de verdade, principalmente se a tinta for a lágrima.

Abra-se

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É o habito de fechar cortinas que nos faz esquecer o sol.


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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Olhe pra mim


   Nesse exato momento, oito e quarenta e cinco da noite, acabei de sair do meu chuveiro e abri a janela pensando no que tenho pra fazer amanhã.
   Pela janela, vi o resto do mundo sem que o mundo pudesse me ver:
   São 21:50 em Buenos Aires e Eva chora sentada no chão do chuveiro, relembrando em culpas, os momentos terríveis do aborto praticado mais cedo.
   6:24, Nova Deli. Abhaya, 12 anos, tempera abobrinha com pimenta para o desjejum, com o chá de cardamomo, enquanto agradece a Mahadevi, um deus.
   O velho Abadir, no leito de palhas em Atenas as 3:55, acorda assustado com a lembrança dos pára-quedistas alemães que ainda o assombram.
   Augustin também não dorme às 2:55. Olha o teto fixamente ao imaginar-se na praça de touros em Madri pela manhã.
   Li, de Pequim, matou uma galinha as 8:57. Era a última. Ela esperava vender no mercado, mas a fome falou mais alto.
   17:56, em Seattle, Anne Marie caminha com o frio da tarde, esperando não ser assaltada até chegar em casa.
   Em Dublin são 1 da manhã, Devlin, sentado na sala escura, olha a última pilha de batatas guardadas para uma sopa. Desde os atentados ele não arruma emprego. Seus filhos dormem.
   4 da madrugada, Cartum, Sudão, Sidding esconde a última barra de chocolate, salva das mãos de vizinhos, na luta por mantimentos atirados pelos pára-quedas da ONU.
   3 da tarde, em Honolulu, Malu devora sua quinta asa de franco sentada na frente da TV.
   Quase 8 da noite em Lima e Ruan ainda está limpando o altar, na Igreja de Miraflores, para a missa da manhã seguinte.
   Em Apia, 3 da tarde nas Ilhas Samoa, Drika finalmente morreu. Parentes e amigos estão de pé na porta da tenda tosca. Os homens açoitam-se e as mulheres choram em silêncio.
   11 e meia, perto de Adelaide, Gundoii, um aborígene, escolheu a sombra da última árvore como local ideal para esfolar o canguru abatido.
   E em Nuuk, Dinamarca, 10 da noite, a esperada Giselle finalmente nasceu. Ela tem Síndrome de Down e será muito amada por seus pais.

Por vezes, a gente consegue ver muito além das nossas janelas.
Por vezes, a gente consegue ver um mundo inteiro ao nosso redor.
Por vezes, a gente consegue ver alguém muito longe da gente.
Por tanto tenha certeza: Sempre, ao menos uma pessoa, está olhando pra você. Agora.


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sábado, 19 de novembro de 2011

Tem gente

Tem gente que leva muito de você.
Tem gente que não leva nada.

Tem gente que deixa muito.
Só não tem quem não deixe nada.

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Cada qual

Cada um vai ter de mim sempre o que cultivou.
Cada um vai ser em mim exatamente o que cativou.
Cada um vai ver em mim apenas o que sou.


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Como eu gostaria

Gostaria de comer sem pensar na balança.
Gostaria de trabalhar como se não precisasse de dinheiro.
Gostaria de dar sem pensar em receber.
Gostaria de beber sem pensar na ressaca.
Gostaria de amar como se nunca tivesse sido magoado.
Gostaria de dançar como se não tivesse ninguém olhando.

Cuidado

O sucesso tem muitos pais mas a derrota só tem uma mãe.

Como um passarinho

Feliz é passarinho: Voa pra onde quer, canta suas próprias canções, não fala da vida alheia e caga sem se preocupar com o que está por baixo.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Valeu a intensão?

E o pior é que tem uma hora em que a gente percebe que tudo não passa de um desperdício de boas intensões, francamente viu?

Com o tempo

Ando a me transformar em saudades, em breve serei lembrança.
Um dia, quem sabe? Ausência.

Tou nem aí.

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Não sinto a menor pena de quem diz não sentir nada.

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Vida de Circo

Quando criança, pensei um dia em fugir com o circo.
Até que um dia foi o circo que fugiu de mim.

Aprendendo

      Na maioria das vezes prefiro mesmo os bons e poucos amigos como companhia.
     Mas sabe que outras vezes um pobre de espírito me faz um bem danado, acho que com eles aprendo a ser um humano melhor.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Diferente

   Eram ele e aquele paninho a fazer carinhos no velho balcão de cedro polido no óleo de peroba. O balcão, amigo silencioso e ouvinte passivo de seus pensamentos, era a única testemunha confiável dos seus últimos vinte e um anos de vida. Seu nome, Uélintom, escrito assim mesmo, era completamente desconhecido por todos, da mesma forma que era de um total desconhecimento a sua própria vida. Afinal, viver para ele, se tratava apenas da vida dos outros, daqueles que se sentavam do outro lado balcão. Da vida dele ninguém ali sabia ou se importava em saber.
   Ele? Ele era o primeiro a chegar e o último a sair do bar, bar que, aliás, já estava no terceiro nome, já havia trocado de equipe dezenas de vezes e sofrido algumas reformas. Só mesmo ele continuava o mesmo. Caladão, sorriso meigo, olhos de verde antigo, prestativo e elegante. Jamais havia sido visto sem a gravatinha preta, o colete e a cabeleira prateada penteada a esmero.
   -Ô Cabeleira!Bota mais uma aqui, por favor? – Para todos, ele era apenas o Cabeleira.
   Desabafos de corações partidos, festas de aniversário, descasadas carentes, despedidas de solteiro, galantes paqueradores, casais entediados, e o famoso “repiau”, como ele mesmo dizia, eram a sua vida. A vida dos outros.
   -Ô Cabeleira! Bota um chorinho aí vai?
   Ele botava um chorinho, lavava os copos e taças maculadas de batom, arrumava garrafas a meio ventre vazias; cortava rodelas simétricas de limão, enchia baldes sedentos de gelo e voltava ao cúmplice paninho. Polir o balcão era pra ele o único ato de carinho, carinho físico eu me refiro, era o único “tocar em alguém” e ele o alisava, horas como quem esfrega escadaria de igreja, horas como quem faz carinho na bunda gorda de uma velha esposa.

   Cabeleira era querido. Amado? Amado não, só querido. E era querido apenas por que ouvia. Ouvia como ninguém: Ouvia desabafos de corações partidos, o baterem de palmas nos “Parabéns Pra Você”, jovens senhoras carentes, nubentes esperançosos, “Don Ruans” fanfarrões, ouvia o silêncio do tédio de casais em crise e mesmo no Happy Hour, reservava-se apenas o direito de murmurar:
-É... Podia ter sido diferente, quem sabe? Não é verdade?
   Dois anos depois do dia em que Cabeleira não apareceu para trabalhar, quando já um novo barman, que fazia até mágicas e malabarismos com garrafas ocupara seu posto atrás do balcão empunhando um longo cabelo negro preso num rabo-de-cavalo, entrou no bar uma senhora. Entrou ansiosa, trazendo pela mão uma jovem de seus 20 anos com olhos de verde antigo e um papel na mão a conferir o endereço.
   -Boa tarde, eu queria falar com Wellington, por favor. – Disse ao novo gerente da tarde.
   - Queira me desculpar senhora, mas não trabalha ninguém aqui chamado Wellington.
   A jovem de olhos verde antigo tomou a mão da senhora de cabelos grisalhos entre as mãos e disse:
   - Vem mãe, você já procurou em todos os bares dessa cidade, não poderia ter sido diferente, não é verdade?
    Do fundo do balcão alguém gritou:
   - Ô Cabeleira, bota mais uma aqui, por favor?
   E a vida seguiu, diferente. Não é verdade?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Então

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Se nunca seremos nós então, então serei apenas eu por hora.
Que eu consiga me bastar então, então estarei em paz por hora.
Um dia virá alguém então, então vai me fazer feliz por hora.
Não achei que iria ser assim então, então vou esquecer você ...


        pra sempre.


       Acabei de fazer isso... agora.



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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Hit Del


Às vezes a gente tenta deletar uma pessoa da nossa vida e vira e mexe você se pega recuperando o arquivo na lixeira. Esvaziar-se, por vezes, é absolutamente necessário. A decepção é um vírus.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Parente próximos

Beijaram-se na cozinha como não faziam fazia tempo.
Desde Agosto não se viam e já era Novembro.
A mão bruta, cheia de unhas por aparar, rasgou-lhe as meias de nylon que cobriram as coxas vergadas, por sobre as próprias suas, emolduradas pela saia erguida. Ambos eram só gemidos, amassos e suspiros, misturados a cabelos desalinhados, batom borrado e saliva. O rosto dela, arranhado pela barba mal feita, cobria-se do mesmo rubro que ele escondia nas costas arranhadas. Na blusa de seda prata faltava-lhe um primeiro botão, enquanto no pescoço dele, pendia-se uma gravata de nó, agora tosco, espremido à gola de linho, como se saídos de um atropelamento.
Não emanavam mais perfumes, só suor.
A luz fluorescente, refletida nos azulejos imaculáveis, mal parecia-lhes a meia-luz de um abajur japonês e o cantar dos “ parabéns pra você”, vindo da sala, soava-lhes um tango.
A isso, teóricos chamam volúpia ao passo que os amantes o denominam “excitação”.
E eram beijos e abraços, arfar, torcer e esfregar, numa coreografia sincopada entre o volume involuntário, nascido nas calças dele e a umidade brotando entre as dobras dela.
"Muitos a-nos  -  de  -  vi-da."
Fez-se um “viva”. As velas sopradas trouxeram uma brisa de clareza aos entrelaçados num breve instante de consciência após os aplausos de parentes.
-Meu Deus meus filhos, meu marido, minha casa, meu casamento. Minha segurança. – ela pensou.
- Que coxas, que peitos, que língua, que tesão. – sentenciava o pensamento dele.
Repentinamente, um cão latiu no quintal trazendo-lhes a razão. Culpados, ajeitaram-se como puderam. Afastados, baixaram as vistas, um do outro, como se pena pelo crime fosse.
Sairiam dali calados e em culpa, de volta às realidades cotidianas dos familiares. Apaixonados em silêncio, dissimulados no dia-a-dia, infelizes na verdade.
Talvez no Natal, talvez outra vez, talvez.

sábado, 1 de outubro de 2011

Já que você não é quem parece ser...

-Mauro?
O poeta virou-se e se deparou com o rosto inconfundível do velho conhecido.
-Capitão? Nossa, que prazer rever o senhor.
Bom, capitão ele não era, aliás, por excesso de contingente havia jurado bandeira e nunca servira às Forças Armadas na vida. Mas o poeta, o Mauro, conhecido de infância insistia:
-Capitão, que surpresa.
-Pois é né? – Diabos falar o que? Nessas horas um “Pois é” parece ser a melhor opção e, na pior das hipóteses, serve de anestésico para o mal entendido que se avizinhava. Na cabeça ele pensava enquanto sorria amarelo: Que porra de capitão o Mauro ta pensando que eu sou?
-Você por aqui? Que coisa hein? Nunca imaginei capitão.
Capitão de novo.
-É né, eu tava só passando e ai então...   Foi ai que ele tomou o caminho errado. Na bifurcação ele tinha duas placas: Uma dizendo “Fala logo que ele ta te confundindo com outra pessoa” e outra escrito “Não vai deixar o Mauro sem graça.Deixa ele pensar que é você o tal capitão que isso não é nada demais”. Foi essa última a sua opção achando que iria ser rapidinho, depois um xáu e pronto.
- Poxa capitão a Glória vai adorar te ver. Glória! -gritou- Glória, –gritou de novo- vem ver quem eu encontrei, vem.
- Olha Mauro eu tou até com um pouquinho de pressa.
-Não, não, não, espera um pouco, faço questão que o senhor escute direto da boca da Glória.
Ai lascou, a coisa tava complicando. E a Glória chegou e disse:
-Capitão! Deus do céu que coisa boa encontrar o senhor.
-Que é isso? O prazer é meu.
Pronto, enfiou o pé. Falar “eu”, “meu”,”nosso” é fatal, é assumir que você é quem você não é.
-Nossa capitão, não, falando sério, o que o senhor fez por mim eu não tenho nem como agradecer.
-Que é isso Glória, a senhora sabe que fiz de todo coração.
Putz! Tava se enrolando cada vez mais. Mas, na cabeça dele, agora não tinha volta, o melhor era tentar ser gentil e, no mínimo, não sujar a barra do capitão.
-Capitão não se fazem mais pessoas assim como o senhor, o senhor é uma alma boa, leal, honesto, um verdadeiro cavalheiro.
-E um verdadeiro brasileiro. Um patriota. –Proclamou o poeta.
-Que é isso amigos, vocês assim me deixam encabulado.
-Modesto, modesto também. Tá vendo Glória? Isso é que é.
Bom, agora não tinha mais jeito, o estrago tava feito. Mas na despedida ele ainda foi capaz de piorar as coisas mais um pouquinho.
-Poeta, Dona Glória, foi um enorme prazer revê-los, mas tenho que ir. Porém só mais uma coisinha: É que vocês estão sendo tão gentis comigo, assim tão elogiosos que eu fico até meio constrangido de falar, mas o fato é que eu não sou capitão.
O casal espantou-se, que coisa, que engano, que desagradável. E ele, tocando as pontas dos dedos no ombro disse:
-Não se assustem, é que fui promovido. Agora sou coronel.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Titanic

     Dos brindes às taças de campagne até as pás de carvão nas caldeiras quase todos morreram no Titanic. Assim se fez mais uma prova da igualdade dos homens e mulheres. Mas ninguém lembra disso. Na morte morremos iguais senhoras e senhores, por tanto então, tentemo-nos viver iguais até que venha o inevitável naufrágio geral.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Egolatria

    Você se ama? Bom né a gente se amar?
    E como é que fica aquela máxima do messias “Ama o teu próximo como a ti mesmo”? Hum? E aí? Fica difícil não é mesmo?
    Na prática a gente perambula pelo mundo é praticando o contrário. E pior: A gente vive doido é pra que todos os outros, esses tais de “próximos”, acabem amando a gente mais do que a gente ama a gente mesmo.
    A técnica é mesquinha, fácil e comum a todos nós:
    Primeiro a gente, como nos foi ensinado, acha que somos o que fazemos ou realizamos. Ou seja, adoramos nossos feitos e nunca nos cansamos de contar nossas incríveis façanhas mesmo para uma platéia nada interessada nisso. E aí é um tal de “aí eu fiz, aí eu disse, aí eu peguei, aí eu bati,aí eu bebi, aí eu comi (no caso masculino o “eu comi” é até a mais freqüente das façanhas) e por aí vai.
    Vangloriemo-nos então, deve funcionar. Talvez algum crédulo de plantão escute e pense – Poxa que coisas incríveis. Você pode virar uma espécie de herói sabe?
    Outra estratégia bem bacana é procurar sempre estar certo. Essa é fatal, mas exige lábia e competência. De saída esquece esse negócio de ser feliz, ou de estar em equilíbrio com o mundo, harmonia e tal, isso é coisa de quem não se ama. Seja lá qual for o assunto você tasca sua opinião na roda e não deixa ninguém discordar. Argumenta, enche a pessoa de exemplos, mostra conhecimento de causa e se nada disso funcionar, você fala sem parar por que, no final, você acaba vencendo nem que seja pelo cansaço. Além de vencer, que é o que você quer na realidade, você ainda ganha, de bônus, a estória desse embate pra somar-se ao item anterior: Façanhas Vitoriosas.
    Outra boa é ser superior. Não caia nessa filosofia de Guru que fala que nobreza é procurar ser melhor do que o que você era. Esquece. O negócio é ser, ou parecer ser, melhor do que os outros são. Esse é o ponto da questão.
    Se você encontrar alguém no caminho demonstrando ser super humilde, não esqueça, some os conselhos anteriores e trate de provar que você é muito, mais muito mais humilde do que essa pessoa.
    Outro aspecto extraordinário do amar a si mesmo é o se ofender com qualquer coisa. Não sério, olha só: Se você procurar motivo pra se ofender vai achar um montão. É só olhar em volta, que no seu dia-a-dia, tem um monte de oportunidade. O peso do seu trabalho excessivo, a falta de reconhecimento, a amizade não retribuída, as pessoas que não seguem o seu exemplo, as injustiças que você, jamais, cometeria com ninguém... Motivo não falta é só procurar. Como brinde, nesse item, você ainda pode acabar se aborrecendo com isso, sofrendo até, quem sabe lá e isso lhe levará, automaticamente, ao nosso próximo passo: O Coitadinha de Mim.
    Ah! Hum... Eu adoro isso. Orra, você é tão perfeito em suas epopéias, tão certo nas coisas que fala, tão, tão... Nossa você é tão “Tão” e ninguém reconhece isso? Ai-meu-Deus! Coi-ta-do. Gente? Eu tou com tanta pena de você que nem vou falar mais nada.
    Mas não se esqueça: Ególatra que se preza, que se ama de verdade, mais que qualquer outra coisa no mundo, pode praticar o “tadinho”, mas nunca deve se esquecer dos aumentativos. Tou falando sério veja bem:
    Significado de Aumentativo
adj.Que aumenta.
S.m. Gramática. Tipo de derivação vocabular dos substantivos, realizada por meio de sufixos, como ão, alhão, ázio, arra, que encerram idéia de aumento: facão, vagalhão, copázio, bocarra.
    Tem que ter o carrão, o somzão, o vestidaço, o peitão, o amorzão, afinal, ego se alimenta de reputação gente. E é nisso que o ególatra deve se concentrar vinte e quatro horas por dia. Por que de nada vale o que você acha de você mesmo, o lance é o que os outros pensam de você.
Hey! (Em inglês, ta vendo?) Não vá perder tempo com formação de caráter, retidão ou até sensatez hein? Tou falando de EGO.
    Bom, agora que já dei a receita, pratique. Tenta aulas práticas depois de tanta teoria, tenta luxúria, gula,  avareza, ira, soberba, vaidade e a maravilhosa preguiça.
    Se nada der certo, faz um blog e masturba seu ego com cada comentário elogioso. Quem sabe seu ego não cresce um pouquinho e vira um EGÂO.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Reflexos?

   He He He, engraçado, tava ali olhando no meu espelho e sem ter nem porque, levantei minha mão direita e acenei para o reflexo. No espelho, lá do outro lado, alguém igual a mim também acenou. Esse alguém parecia comigo, tinha meu corpo, minha cara e todo o resto da minha aparência. Era alguém tão parecido que eu podia jurar que era eu mesmo. Alguém realmente igual a mim. E ele acenava e sorria quando eu sorria, era, era... confiável eu até diria. Não, poxa, veja bem: Alguém assim tão igual, um quase você de tão parecido, imagina ai poxa. Você não iria se sentir a vontade? Assim, confortável? Sei lá. Eu me senti. Afinal o cara tava lá, nu como eu e me olhava nos olhos do mesmo jeito que eu o olhava.
   Só poderia ser muito confiável. Era um eu lá. Nu e me olhando sem a menor cerimônia ou julgamento.
   Olhei outra vez e por impulso, acenei outra vez.
   Sabe, o cara lá do outro lado de quem eu tava falando? Pois bem, ele acenou também.
   Igual a mim. Bom, dessa vez eu pude perceber um detalhe. Ele me acenava com a mão esquerda, enquanto eu usava a outra aqui do meu lado. Hum, sei não: Se até uma imagem quase perfeita de você mesmo, não age do mesmo jeito que você ou não age do jeito que você acha que essa outra pessoa deveria agir, imagine você longe de espelhos?
   Não espere nada assim tão igual a você viu?
   Quer igual? Tire uma fotografia, tire um retrato de você, como diziam nos meus tempos ( agora é Foto) . Ali as mãos direitas são direitas e as esquerdas... Bom as esquerdas ficam do outro lado.
Mas você não quer isso não é? Ou quer?

domingo, 28 de agosto de 2011

Caminhar por falta de espaço

        Na manhã seguinte ele se lançava ao mar. Não era só mais uma partida, era uma partida de tudo que conhecera como passado. Até então.
      A jangada de toras cansadas rangia no bater das ondas como rangiam seus dentes a remoer a memória.
      Ainda era como ela havia lhe dito:
     –Não há espaço para meus sonhos aqui nessa praia José.
     E fora assim que, na noite anterior, ela também partira. Batera a porta da cabana de taipa à beira mar. Pegara um velho lenço vermelho, amarrara no pescoço e caminhara em calma pela areia imaculada de pegadas da Caeira. Se fora. Partira em busca de um novo, que nem ao menos, ela mesma, podia imaginar como seria.
     Ele, sozinho no mar, no silêncio da boca travada em sal e solidão, tratou de afogar a última imagem dela. Tratou de não lembrar, por mais que a lembrança fosse sua única companheira. Pensava e pedia ao mar que apagasse seu pensar nos momentos que tinha vivido ao lado dela, em todos os planos, nos seus próprios sonhos e num juntos que não havia mais. Queria que tudo se apagasse como fazem as ondas com a espuma.
      Redes vazias e ventos contrários. Nem as bênçãos de Yemanjá caiam sobre os ombros queimados de sol do pescador e nem um minuto de paz lhe vinha. Lutou contra o oceano até o anoitecer e por fim, amarrado ao mastro tosco, dormiu.
     No escuro da noite sem lua uma sereia lhe disse:
     - Não há espaço para sua dor aqui nesse mar José.
    E o mar virou.
   O vento soprou forte, rasgando a vela de pena, enquanto José abandonava a rede libertando a jangada do mar. Os raios e trovões ensurdeceram a memória do pescador até que uma calma enorme tomou conta dele. Era ele e o escuro, o rugir e o ranger e o lembrar e o esquecer numa luta sem vencedores. Até que noite e mar o engoliram.
     Nessa época do ano as gaivotas faziam ninhos na ilha. Naquele momento havia uma centena voando e piando ao redor da Enseada da Caeira.
     José acordou com a primeira marola da maré de enchente lhe lambendo a cara. Levantou a cabeça meio zonzo, areia colada no rosto e, de joelhos, viu a cabana de taipa nos olhos turvos. Uma casa vazia de tudo.
     Ao redor, o vai e vem das ondas balançava destroços da jangada em meio à gritaria dos pássaros.
Sem jangada, sem planos, sem futuro. Sem Maria, sem o peixe e sem alegria José levantou-se e caminhou.
São conselhos ou tempestades que nos fazem caminhar? O não ter mais nada é também um começo: O começo de um novo caminhar.
     José tossiu e vomitou água do mar. Ao tentar limpar a boca viu na mão um trapo molhado; vindo do nada que lhe restou, um velho lenço vermelho estava enrolando na sua mão. Esperança ou lembrança ninguém saberia.

     José caminhou até a cabana, ateou fogo nas tralhas e caminhou pela Enseada da Caeira no Mar de Fora de Fernando de Noronha.
     - Nem no mar nem naquela praia haveria espaço para tanta dor.
     Melhor era caminhar adiante.
     Sobre a areia, tinta pela cor do fogo, as ondas lamberam a praia até que última marola da enchente levou pro mar um velho lenço vermelho ali abandonado.
     Ali, nem mais Maria e nem mais José.

sábado, 27 de agosto de 2011

Tenha coragem

Graças aos céus meus heróis tiveram a coragem de fugir de todas as batalhas. Se você ainda acha que o mundo é para ser enfrentado e não aproveitado fica aqui uma linha:
Fuja e viva idiota. Por que amanhã tem mais.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Bobinha

Ai ele disse pra ela: “ Não querida, sexo anal não é sexo praticado uma vez ao ano.” #Bobinha

Por não querer a calma

Não me agarro a essa calma.
Me encanta a turbulência, a surpresa do imprevisto.
Aí o improviso me assalta.
Se espanta a malemolência, na destreza do corisco.

Que me venha então a vida aos coices.
E que não seja branda.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pó-Pegá

Pó Pegá

Eric e Matheus

 

Composição: Jairinho Delgado   (????)

 
Nois é do tipo safado, doido dos corno xonado temo solteiro largado pro pau pega
Nois arrebenta a portera vendemo toda boiada gastamo tudo em gelada pro pau pega
Quando nois chega chegando nois que vê o bicho pulando soltou nos temo garrando pro pau pega
No batidão arrojado nois dança bem agarrado, nois cerca di todo lado pra não escapa
Pó pega, pó morde, pó beijar, pó pega
Vou daqui vem de lá pó pega
Hoje a noite ta bom e o bailão vai bomba
Solta a batida que eu quero dança meu coração sertanejo alegrar
O som da viola não pode para, não pode para, não pode para
Gosto do embalo desse batidão
Marca o compasso do meu coração
Se a moça linda procura paixão
Pó pega tô na mão


  Deus permita que ela não pegue por que, na melhor das hipóteses, o que ela pegar vai ser bem, bem pequenininho.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fidelis

          Conheci uma moça que levava horas vigiando o amado a distância para ter certeza que este não a traía. Foram horas de amor perdidas, horas de carinhos desperdiçados, horas de afeto desprezadas enquanto a verdade era jogada fora.
          Fidelidade é um pacto que se faz com os próprios sentimentos e não um compromisso assumido com alguém. Se você não for fiel a você mesmo, vai ser fiel a quem?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tolice

A maneira mais tola de você conquistar alguma coisa
                                              é pensar que já a possui.

Boa tentativa

Todos tentamos sempre construir um novo futuro enquanto a velha saudade ri, cinicamente, da cara da gente.

Ironia

É irônico mesmo: Nos dias que acordo canalha
a vida me pede pra ser bonzinho.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ímpar

Poxa vida! Até hawaianas têm par e eu aqui sozinho.

Já é tempo

Já estava na hora da humanidade crescer
                                                    e parar de odiar a si mesma.

Vagabunda

A televisão é a arte mais vagabunda do mundo moderno.
Se o cliente pagar ela é capaz de fazer de tudo.

Opção 2

Cara se você bebe e acorda de ressaca experimenta parar de dormir.

Tão poucos

Em outubro de 2011 seremos 7 bilhões de pessoas nesse planeta.
E eu mal conheço uma dúzia dos que ainda valem a pena existir.

Última viagem

“Michael Jackson cantando com Elvis Presley?
                        Caralho tou doidona mesmo cumpadi.”

                              Amy Winehouse

terça-feira, 26 de julho de 2011

Espetáculo

Tentei tantas vezes matar um pernilongo entre as palmas da mão que pude até vê-lo sorrir agradecendo os aplausos.

Todo errado

Não é que eu não amei não. Eu amei sim e amei muito. Gostava de amar também. Na verdade eu amava amar sabe?              
                      Só que hoje descubro que eu amava errado.

Pescaria

Ah o acreditar! Crer em alguém no escuro é como pescar em lagoa funda. Você acha que ali tem peixe, mas o máximo que consegue é uma queimadura de sol nas costas.

Fala mais alto

As vezes Deus sussurra no meu ouvido: “Calma, calma, as coisas vão melhorar”. Porra, se ele acreditasse nisso falava mais alto.

Tirano

Odeio minha própria tirania quando me pego me proibindo de ser eu mesmo, bem mesmo nas horas onde eu mais precisava ser eu.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Gratidão

Nunca cuspa mesmo no prato que comeu.
Pode lhe faltar o que comer amanhã
e só lhe restar a sua própria saliva.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Preste atenção que Deus é foda

Deus me deu essa cara marcada, riscada em cicatrizes de espinhas, cravos, de protuberâncias disformes, quasímodas na sua maioria, para que eu fosse feliz. Para que, todos os dias, ao me olhar no espelho eu me sinta feliz.
Bom filho da puta Deus é, parece não?
Feliz em poder sorrir, andar com minhas pernas, cantar, ver, tocar um instrumento e compor, na lógica das poesias sem lógica mesmo mantendo a ciência de um intelecto normal. Feliz em ser “normal”, ser até um pouco igual aos que a todos julgam como são os belos, os perfeitos, os bem abençoados de cromossomos e DNAs, e, pior mais ainda ( por que isso é o que mais dói) os hereditariamente sortudos.
Poxa e eu deveria dar vivas por não ser obeso, zarolho, careca, catroca, maneta, gago, burro! Bom burro, se eu o fosse, não o saberia que o sou, mas...
Deus, esse canalha, perfeito demais, impõe obstáculos de imperfeição para que aqueles, e só mesmo aqueles que percebem suas artimanhas, possam crescer. Crescer, lindo, mas pouco prático. A gente queria mesmo é ter a voz do Sean Connery, o corpo da Sofia Loren e o sorriso do Brad Pitt.
Dizem isso nos credos, nas seitas, nas religiões (registre-se aqui que abomino a todas) mas assim dizendo, elas afirmam que no sofrer nós crescemos. Injustiça divina? Talvez.
O fato é que se você olha a minha cara e sente asco, se você sente repugnância ao ver um cara feio, narigudo, com sobrancelhas espessas demais, uma garota gorda te faz rir, uma feia lhe parece uma roubada e você não está na categoria dos mais sortudos, preste bem atenção: Deus pode parecer ser um filho da puta mas ele não fez isso à toa não, ah...não fez não. Preste atenção.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Meninos mortos

Corri tanto para alcançar o futuro que as crianças que moravam em mim não acompanharam meus passos. Aos poucos, fui matando meninos que viviam no meu peito e junto com eles tantas alegrias e boas lembranças.
Morreu um menino que desenhava heróis imaginários, que escondido, pulava de pé na cama dos pais. Sumiu, não sei pra onde, um outro garoto moleque que não tinha o menor receio de sujar-se de lama nas poças d'água cheias de restos de chuva.
Lembro de um outro, um tanto inocente demais, que deitava-se no chão do quintal e perdia horas apenas olhando as nuvens. Acho que nessas horas, ele ganhou muito mais do que hoje, posso imaginar ainda ganhar.
Havia meninos que sofriam muito também, havia o que não sabia jogar futebol, o que levava surras injustas, o que não podia sujar as roupas mesmo em festas infantis, o que invejava os garotos mais velhos, o que não tinha dinheiro.
Alguns desses meninos tiveram morte súbita. O que acreditava em Papai Noel e no Coelho da Páscoa morreu da noite para o dia assassinado pela realidade, assim como o que desconhecia o sexo, morreu fulminado na hora da primeira ereção.
Outros simplesmente descansaram em mim. Lentamente foram me abandonando até partirem de vez pro passado.
Confesso não ter muitas saudades de alguns deles, mas outros no entanto me fazem muita falta, principalmente os que sorriam mais do que eu sorrio agora, que sonhavam mais, que tinham mais fé, mais amor e mais futuro pela frente.
Espero, que na minha velhice, eu reencontre todos eles e possamos, sem a menor responsabilidade, voltar a sorrir, a sonhar e a acreditar em tudo.
Até o dia em que, morreremos todos juntos de uma vez por todas.

   Foto: Marlon Rocha

Deve ser por isso

Se doando, ensinando, confiando, compreendendo, ouvindo e aceitando, você faz muito mal aos outros sabe? É que os outros se acostumam com isso e não lhe veem mais como um bom amigo, mas sim, como um tolo. Útil, mas tolo.
Ser muito bonzinho provoca miopia na gratidão dos outros.