Nota:
- David Sento-Sé
- Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.
Escolha a dose.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Decisão
Eu costumava dizer, Eu certamente espero que as coisas mudem. Então eu aprendi que o único modo de as coisas mudarem para mim é quando eu mudo.
Olhar pra dentro
As vezes chorar porque as pessoas não mudam parece mais fácil que mudar a si mesmo.
Momento lindo
Um momento lindo não é quando você tem algo lindo para olhar. Momento lindo é quando você é capaz de perceber algo.
De Mudança
A gente muda sempre que aprendeu algo, sempre que adquiriu algo, sempre que recebeu algo e sempre que algo lhe fere.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Dor da dor
Há momentos em que o cabo do machado dói mais na mão do carrasco do que a lâmina no pescoço do condenado.
Ao menos a dor do morto será breve enquanto a do algoz será eterna.
Calar-te
Acho que é sempre bom não calar. Deve-se sempre falar as coisas que lhe ocorrem. Idéias, opiniões, sentimentos e sensações, receios, temores, deve-se sim, deixar claro aos outros, aquilo que lhe vem à cabeça.
Não ficam mal entendidos ou meio ditos, ou até o dito pelo não dito. No fundo, evita confusão ou má interpretação.
Por vezes vem até alguém, na sua frente, e pá! Fala uma coisa que você estava doido pra falar e não falou. Aí a gente fala: Poxa, era exatamente isso que eu ia falar agora”. Mas não falou. Dançou, ninguém vai acreditar que você estava pensando aquilo.
Tarde demais não é?
Fala o que você acha, fala o que você sentiu, fala o que você tem falar.
Pode até escolher uma horinha melhor, mas não espera muito, as vezes não tem essa de horinha melhor, ela nunca chega. Vai e fala logo que der vez. Assim ó: “peei e bufe”. Pronto falou e agora tá falado.
Olha, não estou falando aqui de segredos. Isso não. Segredo é uma coisa que a gente não deve falar nunca e na verdade, não deveria querer ouvir nunca também. A gente só deveria ter segredos com a gente mesmo. Só a gente e pronto. Dois sabendo não é mais segredo.
Mas fala viu? Fala o que você tem pra falar e pode falar. Não guarda não que é pior.
Engraçado. E eu aqui dando conselhos. Nossa Mãe! Acabei de lembrar de algumas pessoas que já não estão na minha vida e que eu, sem ter lido antes o que acabei de escrever, deixei elas saírem da minha vida sem eu nunca ter dito uma única vez: “Eu te amo”.
Tarde demais não é?
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Passional
Ainda chovia quando seu corpo escorreu pela parede fria até desconjuntar-se como uma marionete abandonada num canto qualquer.
Numa poça d'água ela se fez trapo. Enrolara-se numa manta puída, velha companheira do mesmo sofá, onde tantas vezes sentaram-se e riram muito da vida alheia, fazendo dessa manta sua armadura contra a dor da lembrança.
Fora sentada no mármore frio da varanda, com os cabelos ainda molhados do banho mal tomado, pingando lágrimas no corpo mal enxuto, que ela assistiu da varanda ao dia acordar.
Amores traem, a memória trai, a meteorologia trai. Amigos nunca deveriam trair. Deveria existir um pacto de amizade incapaz de ser quebrado senão de comum acordo. Um seguro contra amigos traidores ou pior: Falsos.
Não havia removido a maquialagem. Fios negros de rimel demarcavam a rota das lágrimas, o batom, esfregado a esmo tantas vezes, pintara-lhe na boca um sorriso de palhaço. Palhaça, era como se sentira. Traída, era como seria lembrada dali em diante. Punhalada, era a dor imposta às costas pela amiga infiel.
Saiam do cinema como sempre faziam às quintas, iriam a um clube dançar e paquerar os rapazes, beberiam, ririam, reavivariam aquela amizade de meninas cúmplices. Mas não, ao atravessar uma rua, a amiga a segurou pelo braço evitando que fosse atingida pelo carro que passava e gritou:
Cuidado Zenaide!
Zenaide? Que Zenaide? Seu nome era Zuleica. Estupefata, ela sairia dali aos prantos e beberia só e choraria só e só, sentiria a dor da provável traição da amiga até chegar trôpega ao velho apartamento.
No chão molhado da varanda uma voz ainda ecoaria dentro da sua cabeça: Cuidado Zenaide! Cuidado Zenaide!
Mas seu nome era Zuleica e aquela amizade jamais seria a mesma.
Verdadeiro gago
Ele era gago mas so falava verdades.
Sempre aos poucos e com muita paciência, passou a vida se exprimindo na dificuldade diária proporcionada pelo seu distúrbio multifatorial de base neurológica.
Ele era muito gago mas só falava a verdade.
Mesmo com todas as interrupções, atípicas e involuntárias, no fluxo da fala, que se apresentavam na forma de repetições, hesitações, bloqueios, prolongamentos, tensões corporais e ou orofaciais, ele só falava a verdade.
Até que morreu.
Mas alguns poucos amigos se lembravam dele.
-Lembra do Júlio?
-Não, não lembro.
-Aquele menino, que só falava a verdade.
-Não, não lembro não. Que Júlio?
-Poxa! Você não lembra do Júlio? Um que era gago.
-Ah! O gago? Por que você não falou logo? Lembro sim.
Será que os seres humanos esquecem as verdades difíceis de serem ouvidas ou jamais perdoam os nossos defeitos?
Sempre aos poucos e com muita paciência, passou a vida se exprimindo na dificuldade diária proporcionada pelo seu distúrbio multifatorial de base neurológica.
Ele era muito gago mas só falava a verdade.
Mesmo com todas as interrupções, atípicas e involuntárias, no fluxo da fala, que se apresentavam na forma de repetições, hesitações, bloqueios, prolongamentos, tensões corporais e ou orofaciais, ele só falava a verdade.
Até que morreu.
Mas alguns poucos amigos se lembravam dele.
-Lembra do Júlio?
-Não, não lembro.
-Aquele menino, que só falava a verdade.
-Não, não lembro não. Que Júlio?
-Poxa! Você não lembra do Júlio? Um que era gago.
-Ah! O gago? Por que você não falou logo? Lembro sim.
Será que os seres humanos esquecem as verdades difíceis de serem ouvidas ou jamais perdoam os nossos defeitos?
Andar e andar
Quando reclamo porque comecei com o pé esquerdo normalmente não vejo que meu próximo passo será com o direito.
Parecer
Você pode parecer ser tudo para muitos. Se não for, apenas o bastante, para quem importa, na verdade, você não é nada.
Consciência
Se a sua consciência não lhe acusa de nada ou você não faz nada ou não tem consciência alguma.
Planos
Não fico planejando grandes realizações, cometo pequenos atos. É melhor do que só planejar e não fazer nada.
Quem se importa
A quem durma pensando em quem lhe desprezou o dia todo sem conseguir lembrar daquele que, ao menos, lhe desejou um bom dia.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Sonhar, no fim, dói.
Há quem diga que se deve fantasiar. Criar, imaginar, projetar seus próprios planos num plano, não tão plano na maioria das vezes, mas seus, suas aspirações inconcretas. Neles você é herói ou heroína, tudo é bom e perfeitamente plausível para o seu próprio prazer. Nele você até, irresponsavelmente, se realiza. Sonha, e sonhando, o sonho lhe parece bastar. Mas não basta. Falta o tato. Esse sentido insubstituível, malvado, pretencioso e mordaz lhe deixa faltando um bocado, o bocado do tocar e ser tocado. Aí, e nesse mesmo ai, o sonho vai deixar muito a desejar e de uma forma muito cruel, vai se transformar em ilusão. E, reconhecer que seu sonho não passou de uma ilusão, vai doer acredite.
Talvez algumas fantasias devam mesmo permanecer no mundo dos sonhos. Não é seguro para elas tentarem viver no mundo real. Algumas, de tão frágeis, nem conseguem respirar aqui fora. Os ares da realidade são por demais densos, frios e poluídos de verdades.
Melhor não tentar viver sorrindo em sonhos.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Pés no chão
Hoje morreu um anjo, que em algum lugar, morava dentro de mim. Morreu de morte morrida e não de morte matada, morreu não pela maldade de quem mata anjos como fazem alguns.
Meu anjo, morreu pela pura impossibilidade de voar. E como todo mundo sabe, quando um anjo não pode voar vira mortal.
Morreu como nasceu e acho até, que só mesmo eu, sei que ele era um anjo. Viveu até hoje em silêncio num cantinho do meu peito, onde fez ninho sem pedir licença. Sei que era um anjo porque eu tinha sua companhia em mim como uma forma de proteção. Acordava e dormia comigo, me sussurrava coisas no ouvido, me iluminava e, vez por outra, se divertia confundindo meus pensamentos, coisa de criança treteira que se diverte, inconseqüente, fazendo pilhéria da gente.
Sorri aqui agora lembrando de quantas vezes ele se fez de diabinho só pra me infernizar.
Sonhei muito em poder voar junto com ele. Voar juntos. Mas talvez eu, sendo tão estupidamente humano, tenha sido a causa desse voo, que nunca aconteceu, ter se tornado impossível.
Acho que morrer assim foi a forma que ele encontrou para se libertar de mim. Me cabe agora desejar que, sem ter meu peito como prisão, ele possa realizar seus sonhos e finalmente, usando suas asas, consiga voar.
Com os dois pés no chão, eu, vou caminhar sozinho.
Que se vá.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Amor em standby
Desligar pessoas e suas emoções é uma impossibilidade física, psíquica e até metafísica. Se você acha que as pessoas que te amam vão ficar esperando você, um dia, ter vontade de ama-las e ai, e só aí, ligar essas pessoas, que na sua cabeça estão com o modo amar em OFFLINE te esperando, pode tirar o cavalinho, a eguinha, a zebrinha e demais quadrúpedes diminutivos da chuva.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Boa vizinhança
A beleza não se esconde no coração. Na verdade ela mora lá. É vizinha da verdade, da amizade, do respeito, da confiança e da paixão. E todos moram no bairro do amor. Pra quem tem uma rua dessas no peito sempre chegam boas correspondências.
Harmonia
Viver em harmonia não é aceitar tudo, na verdade onde se concorda com tudo é que não há harmonia mesmo.
Doar
Sempre achei que amar não era tomar ao outro para se completar e sim dar o outro ao mundo para que este se complete.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Zoo lógica
De oncinha, a gazela era uma coelhinha.
O leão, deu bote de cobra, se achando gato.
Ela se fez mariposa, fugindo do papo galinha.
Sem a presa nos dentes, ele acabou como pato.
O leão, deu bote de cobra, se achando gato.
Ela se fez mariposa, fugindo do papo galinha.
Sem a presa nos dentes, ele acabou como pato.
sábado, 21 de agosto de 2010
Achados e Perdidos
Ontem achei um sonho.
Era sonho de menina, talvez perdido por ela ou esquecido em algum lugar.
Começava numa casa, branca de tanta paz, com canteiros repletos de esperanças florescendo e um enorme pé de segurança plantado na frente, lançando sua sombra sobre uma varanda de promesas cumpridas.
Começava numa casa, branca de tanta paz, com canteiros repletos de esperanças florescendo e um enorme pé de segurança plantado na frente, lançando sua sombra sobre uma varanda de promesas cumpridas.
Uma porta de confiança, que limitava o nós e o eles, protegia a sala, mobiliada de carinhos, cheirinhos, beijinhos e cafunés. Ao fundo se cozinhava a união todos os dias e num cantinho sem pressa, se costurava uma amizade sólida e duradoura. Uma escada de intimidade com corrimão de respeito, subia à um quarto pintado de segredos onde a paz, a esperança, a segurança, as promessas, a confiança, misturadas aos carinhos, cheirinhos, beijinhos e cafunés, deitavam-se todas as noites numa cama de prazer.
Achei lindo o sonho que eu achei. Se dona aparecer um dia, devolvo pra ela com alegria por que esse é um sonho que não se pode perder assim.
Caso alguém ai a conheça favor mandar me procurar: Rua da Solidão, N-13, Esquina dos Infelizes.
Não me fará falta, tenha certeza, por que eu, já não sonho mais.
Por favor
Se vai pedir um favor pensando em você e só em você, recue. Aquele pra quem você está pedindo o favor pode estar pensando da mesma maneira.
Prudência
Prudência é o farejar fatos no vento e ao se fazer prever, buscar evitar as inconveniências, perigos e constrangimentos. Não agir com prudência é tarefa dos tolos, dos bravos e dos apaixonados, que se lançam em seus próprios abismos sem refletir sequer por um minuto.
Tolos inocentes, bravos baluartes e doidivanas apaixonados agem, revelam e se expressam, sem receios, crentes de estarem fazendo sempre um bem. A si e ao outro. Colhem frutos sim, não os nego, mas, quando dão com os burros n'água é um desastre. No fundo quando erram sofrem. E quando sofrem, normalmente, fazem sofrer.
Recomendo então prudência, praticada juntamente com a calma, o cuidado e a paciência, ao menos duas vezes ao dia.
A prudência não vai lhe tirar as alegrias, mas certamente, vai evitar muitas tristezas.
domingo, 8 de agosto de 2010
Certos amigos são os amigos errados
Tem gente que te pergunta: “Tá tristinho?“. Ou quando você sofre fala “Ah! Deixa de fazer drama”. Alguns falam: “Poxa, pensei que você preferia ficar sozinho” ou pior, “Eu vi que você não estava bem por isso preferi não falar nada”.
Toda tristeza é grande, se há drama há dor e ninguém quer ficar sozinho.
Se não buscam por você quando você necessita é por que, definitivamente, essas pessoas não são seus amigos.
Se não buscam por você quando você necessita é por que, definitivamente, essas pessoas não são seus amigos.
Proveito próprio
Quando alguém lhe servir vinho concentre-se no gesto desta pessoa e sinta-se agradecido. Se pensar apenas em você a única coisa importante será a quantidade de vinho servido ou até mesmo o tamanho da taça. Não haverá motivo então sequer para um brinde.
Decepção
Não sei lidar com o ciúme. Poucas vezes senti e foi amargo demais. Porém, descobri agora, que a decepção é mais amarga ainda. Você descobre que não é você que conta quando você mais conta com a outra pessoa.
Mudanças
Definitivamente há momentos em que um novo jeito de caminhar não é suficiente e a gente necessita realmente de um novo caminho.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Ser ver de fora
Por só um dia, ao menos um dia só, eu gostaria de não ser eu. Queria ser qualquer outra pessoa, seja lá qualquer que fosse, só pra me encontrar pela primeira vez. Meu medo é que talvez eu, nessa pessoa, não tivesse o menor interesse em me conhecer melhor e jamais saberia como eu sou, ou acho que sou, assim, me olhando de dentro pra fora.
Não há espelho que realmente mostre quem somos de fora pra dentro.
Não há espelho que realmente mostre quem somos de fora pra dentro.
Duas vezes
Ando pensando duas vezes antes de dizer alguma coisa.Até mesmo para dizer isso agora, pensei duas vezes.
Conteúdo
A beleza de certas mulheres realmente atrai, mas tenho uma certeza: O que me conquista são as palavras do pensar.
Lições do aprender
Tento aprender com a terra quando lembro que o mar só me ensinou a respeitar o desconhecido e amar a liberdade.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Amputando
Sigo me amputando aos poucos nesse meu andar de passos curtos. Lá se vão planos, sonhos e expectativas. Que venham culpas, sombras e decepções. Mais uma vez se prova que é melhor não gerar expectativas se você não suporta as frustrações. Assim me dou adeus, parto ao me repartir.
Melhor mesmo, é tentar seguir.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Calado
Passaram-se o dia do amigo, o dia da amizade. Pessoas escreveram sobre seus amigos e sobre amigos nem tão amigos. Mostraram-se amigos, mostraram aos outros, amigos que imaginam serem seus, pediram a amigos que se mostrassem ser.
Não o fiz. Por medo talvez, ou por crer ainda no amar.
Há o dia do amar? Do amor? Ou do amado? Há o dia da real confiança em alguém? O dia de não trair sonhos? O dia onde você encontra alguém onde você possa descansar sua alma sem culpas, sem censuras e que seja realmente amável. Que não lhe prometa nada, mas que tente, a quem você se entregue e se divida sem culpa? Há?
Vou manter meus sonhos no meu coração, não posso dividir o que não posso realizar. Que meus pesadelos sejam breves e que um dia eu possa descansar tranquilo.
TRADUZINDO A CANÇÃO
Se voce tem sonhos em seu coração
Por quê não os divide comigo?
E se os sonhos não se realizam
Eu vou me certificar de que seus pesadelos
sejam passageiros
Se voce tem dor em seu coração
Por quê voce não a divide comigo?
E nós apenas esperaremos e veremos
Se aconteceu o que era pra ser
E descanse com calma
descanse livre
descanse tranquilo
descanse em mim
Se voce tem amor em seu coração
Por quê voce não o deixa comigo?
Não posso te prometer um milagre
Mas eu estarei sempre tentando
E descanse com calma
Descanse livre
Descanse tranquilo
Mas descanse em mim
Descanse tranquilo
descanse em mim
Descanse tranquilo
Mas descanse em mim
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Folhetos
Para os que sonham é sempre bom desejar boa sorte. As agências de viagem ainda não têm folhetos descritivos para os que querem embarcar nessa viagem.
Machucados
Vou desistir dessa briga e fazer as pazes com meu coração. Quando brigamos, ele e eu, ambos saímos machucados. Ele e eu.
Ordens explícitas
Determinei aos meus olhos que não te olhassem mais.
Acho que eles me enganam. Quando eles estão fechados é só você quem vejo.
Acho que eles me enganam. Quando eles estão fechados é só você quem vejo.
Finalmente
Finalmente tive uma conversa séria com meu nariz e ele prometeu nunca mais meter-se onde não é chamado.
Silêncios
Há silêncios que confortam, acalmam e nos trazem paz. Outros silêncios porém, são como soar dos canhões no Forte de Santa Maria.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
..mas não é verdade?
E há aqueles momentos onde você nem sonha mais. Não faz planos, não deseja nem almeja, só vai vivendo como se só viver bastasse.
Espetar a última fatia de queijo na tábua de frios e não pensar se há ou não pão, vinho, ou uma grata companhia para compartilhar. Você come só, come o queijo sem esperar nada a mais e sem ninguém pra dizer ao menos “bom queijo esse não?” É um momento só seu de lidar com o que você tem à mão e não e nada mais exigir, nem ao menos o pão ou nem ao menos o vinho.
Pondo meus olhos nublados num horizonte nublado, escuto amenidades, bobagens, estórias de outras vidas vividas pelas outras pessoas. Aqui e ali deixo um sorriso sem culpa, uma observação sem maiores consequências, um sim, um não ou até um cínico “..mas não é verdade?”.
terça-feira, 13 de julho de 2010
I've got you under my skin
Eu já tive você sob minha pele.
Eu tinha você dentro do meu coração.
Tão fundo no meu coração,
que você realmente era uma parte de mim.
que você realmente era uma parte de mim.
Eu tive você sob minha pele.
Eu tentei tanto não desistir,
Eu disse a mim mesmo que daria certo.
Por que então eu insisti? Porque eu sei muito bem,
Que eu tive você sob minha pele.
Eu teria sacrificado qualquer coisa, viesse o que viesse,
Pelo bem, de ter ao menos, você por perto,
Apesar de uma voz de advertencia que vinha toda noite
Repetindo e repetindo em meu ouvido:
“Você não sabe bobinho? Você nunca vai ganhar.
Porque não usar a mentalidade? Volte para a realidade.”
Mas toda vez que eu voltava, só o pensar em você,
Me fazia parar antes de eu tentar voltar.
Pois eu tive você sob minha pele.
Fim do doce
...e ele cansou de esperar que ela o ouça. Agora ela, que entenda que um dia, também se esvazia, uma lata de leite, Moça.
Por fim
Sinto saudades bem sei, sei bem que não provei, todo o seu sabor nem sei, mas sei, já sinto saudades. Não por piedade ou maldade que sinto, na falta de mim, de estar assim assim, perto e dentro de ti, a celebrar o sentir. Só sei que por ciúmes ou negligência, não me permito por decência desejar algo mais, algo que seja pequeno sequer, um beijo, um abraço, um gesto de quem me quer.
Sei que você vai seguir, seguindo uma vida vazia, uma vida fugidia, do jeito que puder viver. Sei que não serei parte dela, que nem vou olhar da janela, sem um pedaço de ti pra ter. Pois bem, seja você. Serei eu. Seremos o que aconteceu, seremos o que não ocorreu, o acaso que não mereceu, a sobra de um amor que de mal, nasceu. Você sera você e eu, eu serei só, só eu.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Auto impotente
Pior que querer que a outra pessoa fosse diferente é ter a certeza que se você fosse diferente tudo seria melhor.
Gosto de sal
Ter a praia como lar,
Saber ficar sem beijar,
Navegar por navegar,
Remar, remar e remar.
Em estrelas se orientar,
A noite não te assustar,
O próprio sustento pescar,
Ter alguém a te esperar.
Não ter o chão pra pisar,
Se agradar do balançar,
Ter o horizonte por par,
E ouvir sereias cantar.
São coisas que só sabem
Aqueles que conhecem o mar.
Saber ficar sem beijar,
Navegar por navegar,
Remar, remar e remar.
Em estrelas se orientar,
A noite não te assustar,
O próprio sustento pescar,
Ter alguém a te esperar.
Não ter o chão pra pisar,
Se agradar do balançar,
Ter o horizonte por par,
E ouvir sereias cantar.
Aqueles que conhecem o mar.
Infarto
Fazer um coração parar de amar é o mais cruel dos pecados. É negar-lhe o próprio ofício: O de amar. É como romper-lhe as veias e sentar-se a apreciar o definhar.
Primeiro se apaga o brilho nos olhos, depois secam-se os sorrisos, segue-se o minguar da poesia, o sonhar, o querer tocar estrelas o não querer caminhar. Tudo murcha, tudo apaga, opaco e morno à espera do frio que virá no final.
Um coração árido não recupera o frescor por mais que se regue em lágrimas, não vê luz por mais que acenda velas de súplicas, não flora, não mais, pois a dor lhe faz crescer raízes apenas, profundas e mais profundas raízes, nunca flores.
Morem naturalmente o fígado de cirrose, o pulmão de enfisema, o estômago de úlceras, os rins de paralisia. Mas, a verdadeira parada é a cardíaca.
É no parar de amar que realmente cessa o viver.
É no parar de amar que realmente cessa o viver.
Endereço
Dentro de mim mora outra vida que ainda não nasceu, que ainda não vive e que não tem endereço.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Eliminado
Acordar pra viver é entrar em campo todos os dias para mais uma partida.
Você entra em campo, cheio de expectativas e esperanças e até cumprimenta educadamente cada adversário, gesto que conta muito.
Rola a bola e começa o jogo; a gente corre pra lá e pra cá querendo fazer parte da partida, vendo sua torcida feliz e seus companheiros satisfeitos com seu desempenho. Aí, alguém lhe passa a bola. O coração faz que sai pela boca e você corre pro ataque, centro das atenções e sentindo-se preparado. Do nada surge uma sola de chuteira na sua canela. Você cai, rola, geme, pede socorro. Foi falta diz o apito. Enquanto todos te acusam de fazer manha só você é quem sente a falta.
O jogo continua e você observa o contra-ataque sem poder fazer nada, sendo apenas mais um em campo se deslocando.
Mais um passe e a bola está outra vez nos seus pés. Agora vai dar certo; toca de tabela com o companheiro, dribla obstáculos, voleia, chuta dentro das redes. A alegria toma conta, você se volta para a torcida, espera o abraço dos amigos mas, lá de longe uma bandeira levantada lhe informa: Impedido. Não adiantou nada desejar tanto a meta nem ter se esforçado tanto. Você estava impedido confirma o replay. Melhor se esforçar mais pra não ser substituido.
Vem bola na área, todos pulam juntos e um companheiro faz contra. Você? Ali, todo suado, se matando, ferido, cansado e querendo sentar no banco, pensa em entregar os pontos.
Mas ainda há tempo para uma virada, quem sabe? Rezar? Focar? Concentrar? Enxugar o suor? Tudo é válido.
E lá vem bola, mais uma chance, há chance, a última chance. O adversário recua, o seu ponta penetra pela lateral, é você na grande área, pede a bola, “cruza, cruza, vai”. Vem sim, lá vem a redonda no ar voando na sua direção. É a bola, o peito e coração se encontrando, mata com classe e bota no chão, pé direito e bomba. Mas, em mãos mais treinadas, seu chute morre, abraçado no colo do goleiro.
Tem nada não, o campeonato da vida, com vitórias, empates e até derrotas, nunca termina. Amanhã tem outro jogo, uniforme limpo, nova bola, outra esperança.
Jogue cada partida como se fosse a primeira, nunca como se fosse a última. O importante é a gente nunca se sentir eliminado da copa.
Verde
- Pisa não, dá azar. Não, para, faz assim não, você tá judiando, não tenta pegar ela não que você acaba se machucando e pode até mata-la sem querer. Pra que pegar assim apertando? Ela não quer fugir de você. Se quer segurar então segura com carinho, com as mãos em concha, abrigando ela.
Olha só, tá vendo? Se você não tiver medo ela vai aceitar ficar perto de você. Tenha calma ela não morde. Não, não sei se você a alimentar ela cresce mais, só sei que sem alimento ela não vai viver muito. Talvez o melhor seja deixar ela voar por aí e voltar quando quiser. Ela é linda livre. Você não deve se agarrar nela e se ela se agarrar em você, deixa, naturalmente, com o tempo, ela cresce ou morre. Deixa acontecer.
A esperança é um inseto verde por que tem sempre em que amadurecer.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Feios e gordas
Era um shopping como todos os shoppings e pessoas como todas as pessoas passavam e passeavam ali.
Mas tinha aquele cara sabe? Estranho, feio, mal-arrumado, tosco.
Faltavam-lhe os cabelos, um dente do lado da boca, sem brilho nos olhos, sem pose, faltava-lhe presença. Parecia um antigo CDF que não chegou a ser nada na vida. Uma estória de insucessos, um fracasso vivo quase sem estória alguma.
Faltavam-lhe os cabelos, um dente do lado da boca, sem brilho nos olhos, sem pose, faltava-lhe presença. Parecia um antigo CDF que não chegou a ser nada na vida. Uma estória de insucessos, um fracasso vivo quase sem estória alguma.
A camisa barata, de estampado duvidoso, lhe saia pelas virilhas, calça bege amarrotada, tênis usados e sem brilho. Da mão pedia-lhe uma capanga, juro, capanga, aquelas carteiras grandes de courvin com uma alça ao pulso e um relógio escrito ADIDAS. Falsificado.
Como cacoete, empurrava, com o dedo longo, um óculos de armação grossa e preta sobre o pau do nariz, enquanto apertava os ohos olhando vitrines recheadas de itens inatingíveis pelo parco poder aquisitivo.
O homem ignorava a moda, a classe e a elegância. O magro, careca e baixinho, ainda não tinha dito não é? Pois é, era baixinho sim. O tal, movia-se com determinação naquela catedral do consumo ao passo que eu, eu? Bom, eu o seguia. Descemos escadas e escadas, todas rolantes, e me sentindo um príncipe, bonito, cheiroso e feliz, eu o julgava como se julgam sempre todas as pessoas quando e como sempre se avistam: Eu o julgava pela aparência.
Meu alvo de escárnio sentou-se impaciente numa mesa de fast-food mal cabendo os joelhos debaixo da mesa. Olhava aos lados ansioso até.
Pobre coitado pensei. Que infeliz. E pior ainda, vai servir-se, no bandeijão, de arroz, feijão, bife e macarrão. Talvez um ovo frito.
Qual nada. O que eu julgara ser mais um momento imperceptível pela humanidade da sua própria solidão, como sina, diante dos meus olhos, transformava-se num sorriso largo de comercial de margarina. O dele, o sorriso dele sim transformava a cena.
Pasmo vi, por entre as mesas de fórmica chumbadas ao chão, que, sem a menor desenvoltura, caminhava ao seu encontro a gorda mais bizarra que minha mente “criativa” poderia descrever. Agora pense numa gorda do tipo bem suada ?
E ela vinha e vinha enquanto o sorriso dele, careca e sem um dente, se alastrava pelas alamedas do shopping. Foi mais que apenas dois corações se esbarrando.
Foi um tal de “que beijo meu Deus”, um tal de “ave maria que abraço”, um tal de que encontro tão bem marcado de celebração à felicidade. Foi a cena de todas as cenas. Como final de filme de Hollywood.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Alfabetizando
Sem dar não se recebe:
Amizade, bondade, carinho, desprezo, espetada, força, guarida, honestidade, importância, jura, lealdade, motivo, negligência, ombro, porque, queixa, reconhecimento, solidariedade, tesão, união, verdade, xamego e zanga.
No xadrez
Me sinto um cavalo de xadrez. Enquanto todos andam em linhas retas, eu sempre dobro a direita ou a esquerda no meu caminhar. Sina de quem sonha ou procura novos caminhos.
Sem futuro
Sonho em ser comentarista de futebol. Sem suar a camisa, revejo o passado e emito opinião após o fato sem ser culpado de nada. Confortável e sem previsões.
Perceber
Até mesmo o cão, um dia olha a galinha assando na vitrine e pensa: “A partir de hoje você ainda me encanta, mas não mais me ilude.”
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Carros de boi
Invejo tanto a calma daqueles que tocam carros de boi.
Os vejo passar nas ruas colhendo lixos, papéis, ferros-velhos.
É uma argola, uma corda, um par de chifres, cangalha. Atada ao animal, uma carroça abarrotada de trastes desprezados pelos abastados, agora recolhidos e renascidos na esperança de um homem que anda descalço. Passos calmos, pés no chão, vara ao ombro.
É uma argola, uma corda, um par de chifres, cangalha. Atada ao animal, uma carroça abarrotada de trastes desprezados pelos abastados, agora recolhidos e renascidos na esperança de um homem que anda descalço. Passos calmos, pés no chão, vara ao ombro.
Por Deus, é uma calma tão sábia a calma desses homens; a calma do andar atrás da rês, que se faz ao lado de quando em vez; mas é atrás que anda. Não lhe encanta ser o primeiro, sabe que o seguir é o certo e caminha sem presa. O canto rangido, de rodas e eixo do carroção, é a expressão sonora e sem nexo do remoer de seus pensamentos, nada profundos de certo e sem maiores consequências. São só pensamentos.
O privilégio da ignorância os faz infantis em meio trânsito louco que se move em minutos, ao passo que, no seu passo, tudo são horas e horas de caminhar. Numa parada, recolhe mais uma esperança jogada nas ruas, acende um cigarro barato, de fumo ruim, e resona grave na garganta um “Booooi” respondido de pronto pelo andar do animal.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Por Cora Coralina
Vive dentro de mim
uma caboclo velho
de mau-olhado,
acocorado ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo.
Vive dentro de mim
o verdureiro sem futuro.
Seu cheiro gostoso
de verde e terra.
Unhas imundas. Marcas da enxada na camisa rota. Sua fé cega em Santo Expedito.
Vive dentro de mim
o homem ao pé do fogo. Cozinha como cozinha.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antigo
todo pretinho.
Bem arrumado e cheirando a pó.
Pedra de ralar.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
o homem do povo.
Bem proletário.
Bem linguarudo,
desabusado,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de tamancos
e filharada.
Vive dentro de mim o homem da rua. Enxerto de asfalto, trabalhador.
Madrugador.
Analfabeto.
De pé no chão.
Bom fudedor.
Bom de meninos.
Seus doze filhos,
seus vinte netos.
Vive dentro de mim o cabra safado.
Meu irmãozinho
tão desprezado,
tão murmurado.
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida - a vida mera dos obscuros.
Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida - a vida mera dos obscuros.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Aos mais fracos
P.S. – Amo até os dedos mindinhos. Acho que é tendência minha sempre amar aos mais fracos.
Alegria tatuada
Me cansei da tristeza. Não a quero mais. O problema é que acho que a felicidade anda cansada de mim.
Tenho que me reencontrar com a alegria de qualquer jeito e voltar a sorrir nem que tenha de tatuar dentes escancarados na minha boca.
Fim do dia
O teclado feito em inverno desmaia em mim sem sabedoria. Cada tecla é uma lápide de palavra não construída e de emoção não sentida. Desinspirado, fica a dúvida do que faria, fica a certeza que acabou o dia.
Dentista
Há pessoas que deveriam estar eternamente no dentista. De boca aberta e sem poder falar nada.
Tem horas
Horas eu quero meu passado de volta, horas não o quero mais, acho que prefiro apenas visita-lo vez ou outra. Morar nele é que não dá mais.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
E eu
– Oi, tudo bem? Como vai?
– Oi, na verdade não ando muito bem sabe? Os dias me têm sido amargos e tristes.
– Nossa menina nem me fale. E eu? Menina eu ando numa maré de azar sabe? Acordo mal, enjoada, cansada e sem graça pra nada entende? Não consigo dormir, meu intestino não funciona direito, sofro, sofro, sofro, mas não adianta. E pior, agora meu vizinho escuta música nas alturas o dia todo, imagina a dor de cabeça que me dá? Não tem analgésico que resolva. O maridão, já sabe né? Nem tá ai minha filha. Eu que não corra atrás de cuidar da casa, menino, cachorro, contas e contas pra pagar. Sabe outro dia? Passei duas horas na fila do banco pra tirar saldo.Já viu né? Trabaaaaalho feito uma desesperada e no fim do mês..Cadê? Não é fácil amiga. Olha, agora então me apareceram umas manchas na pele, parece coisa de gente velha não é? Mas não é não menina, é stress. Ave Maria amiga, se Deus tivesse piedade me dava uma ajudazinha. Nem na loteria eu tiro pra me fazer feliz. É sina ou praga de gente invejosa, é verdade. Mas conta menina, e as novidades?
– Novidades? Nenhuma. Tudo normal, normal. Sabe como é a vida não é amiga?
– Sei sim, beijos querida, te cuida viu?
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Olá
Não creio em pessoas que te abraçam, sorriem e dizem:
“Olá querido”. Desconfio do querido e não não dou créditos a “olás”. Fico com o velho “como vai você?”.
Direi honestamente, "vou bem, obrigado".
“Olá querido”. Desconfio do querido e não não dou créditos a “olás”. Fico com o velho “como vai você?”.
Direi honestamente, "vou bem, obrigado".
TV
Não comento e não reflito sobre cenas na TV. A TV nunca mostra as cenas reais que se vê, nem lhe oferece a dádiva da reflexão.
Por ter
Quando eu tiver um porque dormirei,
Quando eu tiver uma dor chorarei,
Quando eu tiver um amor amarei,
Quando eu tiver um plano sonharei.
Se eu tivesse chance dormiria.
Se eu tivesse lágrimas choraria.
Se eu tivesse amor saberia.
Se eu tivesse coragem sonharia.
Que eu tenha sono fácil.
Que eu tenha sorrisos plenos.
Que eu tenha ciência do amor.
Que eu tenha sonhos.
E que eu os sonhe.
Quando eu tiver uma dor chorarei,
Quando eu tiver um amor amarei,
Quando eu tiver um plano sonharei.
Se eu tivesse chance dormiria.
Se eu tivesse lágrimas choraria.
Se eu tivesse amor saberia.
Se eu tivesse coragem sonharia.
Que eu tenha sono fácil.
Que eu tenha sorrisos plenos.
Que eu tenha ciência do amor.
Que eu tenha sonhos.
E que eu os sonhe.
Amar sem pressa
Um dia acreditei
que sonhos, todos eles, se realizavam,
que crianças não morriam,
que o céu era realmente azul,
que haveria sempre um sorriso te esperando,
que ninguém se machucava ouvindo a verdade,
que com muita saudade os tempos voltavam,
que com muito desejo a gente ganhava um beijo,
que estando certo ninguém diria o contrário.
Acreditei
que teria crédito pelo que faço,
que teria amparo nas minhas dores,
que rezar adiantaria,
que coisas boas não se esquecem,
que gestos são importantes,
que fatos contam mais que versões,
que a confiança era sempre mútua,
que era bom ser honesto.
Acreditei sim
que a lua me ouvia,
que os bichos falavam,
que o mundo era pequeno,
que havia céu,
que o céu era bom,
que o bom era o bem,
que o bem era meu,
que meu bem era o céu.
Um dia acreditei porque o amor tinha pressa.
que sonhos, todos eles, se realizavam,
que crianças não morriam,
que o céu era realmente azul,
que haveria sempre um sorriso te esperando,
que ninguém se machucava ouvindo a verdade,
que com muita saudade os tempos voltavam,
que com muito desejo a gente ganhava um beijo,
que estando certo ninguém diria o contrário.
Acreditei
que teria crédito pelo que faço,
que teria amparo nas minhas dores,
que rezar adiantaria,
que coisas boas não se esquecem,
que gestos são importantes,
que fatos contam mais que versões,
que a confiança era sempre mútua,
que era bom ser honesto.
Acreditei sim
que a lua me ouvia,
que os bichos falavam,
que o mundo era pequeno,
que havia céu,
que o céu era bom,
que o bom era o bem,
que o bem era meu,
que meu bem era o céu.
Um dia acreditei porque o amor tinha pressa.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Lições
Seu Manuel era leiteiro. Isso mesmo: Leiteiro. Coisa do tempo em que leite era entregue nas portas, derramado de tonéis de alumínio nas jarras levadas por ávidos clientes no amanhecer suburbano. A cena era bucólica sim. Aos sons de Papa-capins, Tizius e Sabiás, parava à porta das casas um velho Ford, verde e preto, tipo perua, donde sairia um também velho senhor, cabelos brancos raspados à máquina número dois, cinto de couro roto atado por milagre à cintura, velhas botinas cansadas, camisa de quadros sertanejos e a exibir uma suspeita barba branca, sempre por fazer, como se aquele homem repousasse o queixo em farinha alva todas as manhãs.
Seu Manuel fedia. Fedia muito ao leite azedado e impregnado nas poucas vestes dia após dia. Enquanto moscas se açoitavam nos vidros da perua, na tentativa inglória de um repasto matinal, o diesel queimado, o leite e seu Manuel em si, agrediam a suave e gentil brisa de uma manhã pueril ao som de passarinhos. No fundo era repugnante. Mas, Seu Manuel sorriria e isso, além de apagar o incômodo, encheria o ar de alegria.
– Bom dia rapaziada da canela suja! – exclamava como se pela primeira vez o fizesse.
Nós, garotos simples e mal mimados, que sentados aos muros aguardávamos o leiteiro todas as manhãs, sorriamos de volta e em algazarra, o cercávamos de mimos como se ele fizesse chover Drops Ducora.
– Quantos litros quer a mamãe hoje? – perguntava – Foram bem nos testes de matemática? Menino andas a matar passarinhos de estilingue? Opa! Não lavas bem estas orelhas ó putinho? Tu ralhastes com tua irmã ainda ontem pimpolho?
Seu Manuel parecia adivinhar o nosso modesto cotidiano com uma precisão de quiromante. Como ele sabia de todas aquelas coisas? O velho português era um adivinho? Sorria e olhava nos olhos da gente, mais ainda, olhava dentro da gente. Seu Manuel sabia nossos segredos. Todos eles.
Só nós, garotos espertos, pré-amadurecidos na necessidade da sobrevivência, tínhamos a resposta: Seu Manuel fingia ser leiteiro, aquilo era um truque dele. Mesclado em todo aquele quadro desagradável de cheiros, moscas e estocadas nos nossos segredos, pois, até mesmo sabendo que de leite mesmo nenhum de nós gostava, ele disfarçava.
O segredo real era o nosso, todos nós sabíamos e não revelávamos: Seu Manuel era na verdade Papai-Noel, que se disfarçava de leiteiro para nos testar durante todo o ano na espera de uma melhor avaliação, para fazer justiça na decisão final a cada Dezembro: Receber ou não, o presente esperado.
Cínicos, sempre tratamos bem Seu Manuel. E sempre fomos bem avaliados, pois mesmo modestos, nunca nos faltaram presentes no Natal.
Cresci. Crescemos todos não? Não sei bem.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Correr atrás
A bolinha de papel voou sobre alguns alunos atingindo o alvo. Imediatamente Camila virou a cabeça, olhos em busca dos olhos da melhor amiga. Era sempre assim quando Malú precisava lhe falar urgentemente. Não dava para esperar o recreio.
– (Amiga, so-cor-ro, mes-tru-ei.) A leitura labial, precisa e bem praticada, completava a comunicação silenciosa entre as duas.
Soou a campanhia e ambas saíram em disparada. Era no banheiro das meninas, na hora do recreio, que a amizade entre as duas se solidificara.
– Você não está de Modess? Você é doida? Tá toda melada, olha que meleca!
– Não sabia que ia chegar, não tou acostumada ainda com isso. E agora? O que é que eu faço?
– Pera Malú que eu te ensino – A prática da Camila era surpreendente sempre. Dois dedos da mão direita, dois dedos da mão esquerda, papel higiênico bem enrroladinho e estava pronto o absorvente artesanal e providencial. – Esse tamanho tá bom?
Era sempre assim, a mais novinha recorrera por toda a adolescência aos préstimos da melhor amiga do mundo para tudo. Camila era o farol de Malú.
– Amiga ele me pediu um beijo na boca hoje. E eu vou dar. Mas como é que eu faço?
– Simples. – sempre prática – Você abre um pouco a boca, não muito e vira a cabeça pro lado. Ai beija.
– Lado direito ou esquerdo?
– Qualquer lado Malú, poxa vida!
– E se ele virar pro mesmo lado? Não vai bater o nariz?
– Ai você vira pro outro droga! E ai você poe a lingua na boca dele e ele poe a língua na sua boca.
– E eu faço o que com a língua dele dentro da minha boca?
Camila faria uma cara de séria.
– Ai Malú como você é devagar menina. Primeiro beija amiga, depois é só correr atrás dos seus sonhos.
Os anos passaram, as vidas caminharam e caminharam sem mais se encontrar, até o Orkut as reunir outra vez.
Camila do Amaral Pestana
aniversário: 18 de outubro
interesses no orkut: amigos, paquera, balada,
estado civil: Já casei e não gostei, SOU LIVREEEEEEEE!!!!
filhos: Dois do primeiro e um do segundo, é mole?
etnia: não entendi a pergunta
religião: loge de mim
fumo: sim
bebo: muito
quem sou eu: Sou quem sou e meu futuro é agora. Odeio planos. Não creio em fantasia nem perda de tempo.
Maria Lúcia (ou só Malú)
aniversário: 11 de março
interesses no orkut: contatos profissionais
estado civil: casada
filhos: Alexandro 12 anos, Matheus 13 anos e Camila 5 aninhos
etnia: minha alma não tem cor
religião: Somos católicos
fumo: não
bebo: nunca
quem sou eu: me acham assim... uma pessoa meio devagar, mas como uma amiga muito querida me recomendou, um dia vou correr atrás dos meus sonhos.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Mudanças
Quando é preciso mudar, o que importa não é a velocidade em que as coisas mudam e sim a direção que se quer tomar.
Só errando
É errando que se aprende
Que crescer não é ficar mais velho,
Que o calar as vezes é resposta,
Que trabalhar muito não é produzir muito,
Que só se ganha amizade oferecendo a sua,
Que o belo por vezes é o mal,
Que se aprende uma lição de cada vez,
Que há tempos tristes mas não vidas tristes,
Que na alegria, um dia vale uma vida inteira,
Que conhecimento não é sabedoria,
Que não se deve esperar por nada,
Que os tolos são mais felizes,
Que nos enganam mais aqueles a quem amamos,
Que o passado é para lembrar e não reviver,
Que não há experiência vivida que nos prepare para mais um dia,
Que amar não é se anular,
Que só quem nos pode dar lições é o tempo,
Que pessoas entram na nossa vida por acaso,
Que pessoas não permanecem em nossa vida por acaso,
Que o medo bloqueia a alegria,
Que se deve exigir mais de si e menos dos outros,
Que é você que escolhe suas cores,
Que apenas tentando acertar é que se erra,
Que antes mostrar ou falar é preciso ver e ouvir,
Que se deve ser feliz mesmo sem motivo,
Que um ano bom não vale um dia perfeito,
Que esquecer as vezes é uma necessidade,
Que se deve sempre topar andar em frente,
Que não se deve nunca parar diante de uma topada,
Que pode sim viajar às estrelas,
Que quem diz amar por toda vida está a viver sem amar,
Que não há aplausos quando a vida acaba,
Que dar carinho nos cura,
Que assim como a flecha, oportunidades não voltam,
Que somos livres em tudo,
E que Deus a nada proíbe.
Que crescer não é ficar mais velho,
Que o calar as vezes é resposta,
Que trabalhar muito não é produzir muito,
Que só se ganha amizade oferecendo a sua,
Que o belo por vezes é o mal,
Que se aprende uma lição de cada vez,
Que há tempos tristes mas não vidas tristes,
Que na alegria, um dia vale uma vida inteira,
Que conhecimento não é sabedoria,
Que não se deve esperar por nada,
Que os tolos são mais felizes,
Que nos enganam mais aqueles a quem amamos,
Que o passado é para lembrar e não reviver,
Que não há experiência vivida que nos prepare para mais um dia,
Que amar não é se anular,
Que só quem nos pode dar lições é o tempo,
Que pessoas entram na nossa vida por acaso,
Que pessoas não permanecem em nossa vida por acaso,
Que o medo bloqueia a alegria,
Que se deve exigir mais de si e menos dos outros,
Que é você que escolhe suas cores,
Que apenas tentando acertar é que se erra,
Que antes mostrar ou falar é preciso ver e ouvir,
Que se deve ser feliz mesmo sem motivo,
Que um ano bom não vale um dia perfeito,
Que esquecer as vezes é uma necessidade,
Que se deve sempre topar andar em frente,
Que não se deve nunca parar diante de uma topada,
Que pode sim viajar às estrelas,
Que quem diz amar por toda vida está a viver sem amar,
Que não há aplausos quando a vida acaba,
Que dar carinho nos cura,
Que assim como a flecha, oportunidades não voltam,
Que somos livres em tudo,
E que Deus a nada proíbe.
No infinitivo pessoal
Já vesti tempestades,
dancei sorrisos,
engoli felicidades
e ergui abismos.
Provei ruídos,
bebi maldades,
troquei sentidos
lavei saudades.
Cansei bondades,
chovi caminhos,
pintei vontades
casei sozinho.
Já dormi silêncios,
feri magoados,
amei vestígios
escrevi passados.
Por contradizer eu,
por contradizeres tu,
por contradizer ele,
por contradizermos nós,
por contradizerdes vós ,
por contradizerem eles,
é que me contradigo.
dancei sorrisos,
engoli felicidades
e ergui abismos.
Provei ruídos,
bebi maldades,
troquei sentidos
lavei saudades.
Cansei bondades,
chovi caminhos,
pintei vontades
casei sozinho.
Já dormi silêncios,
feri magoados,
amei vestígios
escrevi passados.
Por contradizer eu,
por contradizeres tu,
por contradizer ele,
por contradizermos nós,
por contradizerdes vós ,
por contradizerem eles,
é que me contradigo.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Pedaços de silêncio
Tinha dela o bom dia, o sorriso fácil, o gesto largo e o compartilhar de problemas cotidianos. Assim, ele se fazia parte dela e assim, tornava dela pequenos instantes do seu próprio viver. Era útil e necessário, no compromisso diário, de unir momentos no sabor eventual de viver uma vida só. Vida à dois saboreada em pedacinhos só deles dois.
Foi quando ele a disse que queria um pedaço maior de sua vida, ali ele estava sim, se dando por inteiro.
Mas ela não disse nada.
Como borboleta
Veja o amor assim como vê as borboletas.
Nunca corra atrás dele, e sim cultive seu jardim para que ele venha até você.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Por amor
Dizer “não”, dizer “você está errado”, dizer na lata “poderia ser melhor”, olhar nos olhos e falar “você pode melhorar”, é, no fundo, um ato de lealdade. Prova de amor.
Dias tortos
Há dias tortos. Há sim.
Mas há dias sem filas, de semáforos verdes, de chefes amigáveis, de boas manchetes, de ouvir música antiga, receber carta de primo, de comer pão quente e de piada nova. Há dias de não errar o caminho, de gente que não atrasa, de ganhar presente surpresa, de sinusite calma, de não ter sono de dia, de passarinho não cagar no vidro do carro, de não faltar luz, de achar uma coisa perdida, de lhe devolverem um empréstimo e de perdoarem sua dívida. Há dias de não dormir sobre o braço, de achar vaga no shopping, de não encontrar nenhum chato, de garçom atender bem, de achar dinheiro na rua, voltar namoro acabado, de polícia não dar a multa, de internet não dar pau, ser convidado pro almoço, dia de não ter ressaca e dia de não ter ciúmes. Há dias de pele boa, de sapato confortável, de receber aumento sem pedir e de pedir e receber, de ouvir um monte de sims, de certo, ou tá certo, de ouvir eu também acho, dias de ouvir até: Sim, você está certo, eu também acho.
Adoro esses dias. Mas que há dias tortos, há sim.
Analgésico
O seu abraço era um sonho tão perfumado, quanto são perfumadas as lembranças de uma infância feliz. Tomava assim, o seu abraço cheiroso, tendo ganas de fechar portas e janelas para que durasse mais.
Aumentava o aperto do braço sobre os ombros, colava o rosto um tanto mais, dava-lhe a cintura. Sentia as coxas de ambos trocarem segredos e promessas enquanto aqueles, alguns segundos de sonho abraçado, extendidos até o limite tolerável do socialmente aceito, aparentasse ser apenas um abraço. Mas não o era.
– Durma bem – ele diria.
– Você também – ela diria.
O sabor das quatro palavras ficaria escrito nas paredes.
Morreria em “ais”, enquanto caminhasse até sua casa, guardando mais o quanto ele a encantava, do que o quanto ele a maltratava com o silêncio.
Não seguiria reto. Não andava a lhe encantar a retidão. A dúvida, essa sim, andara a ser a sua nova companheira.
– Quando seremos? Como seremos? O que seremos? – pensaria.
E longe, seus olhos choveriam marés de saudade e desejo, mesmo sabendo que dentro dela, ele a doía um tanto assim. E doeria até uma próxima despedida, quando um novo abraço analgésico, enchesse seu coração de alegria.
Preste atenção
Preso no engarrafamento dei-me a observar a rua e seus habitantes. Gosto de me pegar fazendo coisas e me dar conta de que as estou fazendo, é quando meu fazer apura meu sentir. Assim, ciente do observar, construo conceitos sobre o que vejo:
O cara à frente deve ter um péssimo gosto tirando pelos adesivos colados no vidro do carro, o suado moreno gordo, bolso da camisa cheio de pedaços de papel e que tenta atravessar a rua é daqueles que está sempre atrasado, a estudante sequinha de braços fraquinhos para tantos livros, certamente sonha com o sucesso, um dia, ou ao menos, por um dia. Apavorada no caos urbano, uma talvez mãe, trás duas crianças pelas mãos, ela toda arrumadinha e cheirosa, ele, todo descabelado, boca lambuzada de doces. Ela a queridinha, ele o danado.
Casas, prédios e estabelecimentos comerciais também traduzem certas sensações:
Não há muito escrúpulo num dono de farmácia que oferta, em faixa de murim, anti-espasmódicos como necessários enquanto a placa, pensa e faltando letras, na porta da papelaria traduz a qualidade do material didático que vende. Os reclames fajutos pintados no muro da escola me fazem também pensar no que realmente eles ensinam ali dentro.
Interpretações, impressões, conclusões.
Há enganos também sabe? Olhando aquelas casinhas brancas, siamesas por economia, aquelas que os militares ocupam quando são transferidos para nossa cidade, sabe de quais estou falando, não é? Elas são assim... sem personalidade. Nenhuma cor, nenhum jardim, nenhum quadrinho de mal gosto nas varandas esquálidas. Não possuem sequer uma caixa de correio criativa ou até mesmo um vira-latas a latir no portão para lhes emprestar identidade. São casas iguais, de telhados iguais, de muros iguais. São casas tristes.
Mas desce então do coletivo barulhento um farto sargento do Batalhão de Infantaria de Selva, para quem de nada adianta a camuflagem recortada no muro branco de uma casa tão igual. Uma das casas tristes. Na calçada, mal contendo os sorrisos, uma farta esposa de um sargento do Batalhão de Infantaria de Selva, abre braços amplos antecedendo o caloroso abraço.
O engarrafamento não andava e a cena do casal, agora já se beijando em plena via, mostrava meu engano.
Más interpretações, más impressões, más conclusões.
É o olhar da gente que cria a imagem e não própria imagem em si. Não é possível enxergar adiante quando nos basta apenas o ver.
As vezes parecemos casinhas brancas, tristes e iguais. Mas certamente podemos abrigar um mundo colorido, alegre e único. É só prestar atenção.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
De cada um
Atrás de cada um a sempre outra pessoa e atrás de cada pessoa há sempre um sonho ou um interesse.
Fico com os que sonham.
Fico com os que sonham.
Futuro
Há pessoas que vão longe, outras, vão até a esquina, compram pão e voltam à sua mediocridade.
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