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Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

Escolha a dose.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Feios e gordas

   Era um shopping como todos os shoppings e pessoas como todas as pessoas passavam e passeavam ali.
   Mas tinha aquele cara sabe? Estranho, feio, mal-arrumado, tosco.
  Faltavam-lhe os cabelos, um dente do lado da boca, sem brilho nos olhos, sem pose, faltava-lhe presença. Parecia um antigo CDF que não chegou a ser nada na vida. Uma estória de insucessos, um fracasso vivo quase sem estória alguma.
   A camisa barata, de estampado duvidoso, lhe saia pelas virilhas, calça bege amarrotada, tênis usados e sem brilho. Da mão pedia-lhe uma capanga, juro, capanga, aquelas carteiras grandes de courvin com uma alça ao pulso e um relógio escrito ADIDAS. Falsificado.
  Como cacoete, empurrava, com o dedo longo, um óculos de armação grossa e preta sobre o pau do nariz, enquanto apertava os ohos olhando vitrines recheadas de itens inatingíveis pelo parco poder aquisitivo.
  O homem ignorava a moda, a classe e a elegância. O magro, careca e baixinho, ainda não tinha dito não é? Pois é, era baixinho sim. O tal, movia-se com determinação naquela catedral do consumo ao passo que eu, eu? Bom, eu o seguia. Descemos escadas e escadas, todas rolantes, e me sentindo um príncipe, bonito, cheiroso e feliz, eu o julgava como se julgam sempre todas as pessoas quando e como sempre se avistam: Eu o  julgava pela aparência.
   Meu alvo de escárnio sentou-se impaciente numa mesa de fast-food mal cabendo os joelhos debaixo da mesa. Olhava aos lados ansioso até.
  Pobre coitado pensei. Que infeliz. E pior ainda, vai servir-se, no bandeijão, de arroz, feijão, bife e macarrão. Talvez um ovo frito.
  Qual nada. O que eu julgara ser mais um momento imperceptível pela humanidade da sua própria solidão, como sina, diante dos meus olhos, transformava-se num sorriso largo de comercial de margarina. O dele, o sorriso dele sim transformava a cena.
  Pasmo vi, por entre as mesas de fórmica chumbadas ao chão, que, sem a menor desenvoltura, caminhava ao seu encontro a gorda mais bizarra que minha mente “criativa” poderia descrever. Agora pense numa gorda do tipo bem suada ?
   E ela vinha e vinha enquanto o sorriso dele, careca e sem um dente, se alastrava pelas alamedas do shopping. Foi mais que apenas dois corações se esbarrando.
   Foi um tal de “que beijo meu Deus”, um tal de “ave maria que abraço”, um tal de que encontro tão bem marcado de celebração à felicidade. Foi a cena de todas as cenas. Como final de filme de Hollywood.
   Eu, todo fashion e todo só, olhei a vitrine da ZOOMP onde uma calça linda, cara e também solitária me encarava e conclui: Feio se apaixona sim e gordas também gozam.

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