Vive dentro de mim
uma caboclo velho
de mau-olhado,
acocorado ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo.
Vive dentro de mim
o verdureiro sem futuro.
Seu cheiro gostoso
de verde e terra.
Unhas imundas. Marcas da enxada na camisa rota. Sua fé cega em Santo Expedito.
Vive dentro de mim
o homem ao pé do fogo. Cozinha como cozinha.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antigo
todo pretinho.
Bem arrumado e cheirando a pó.
Pedra de ralar.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
o homem do povo.
Bem proletário.
Bem linguarudo,
desabusado,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de tamancos
e filharada.
Vive dentro de mim o homem da rua. Enxerto de asfalto, trabalhador.
Madrugador.
Analfabeto.
De pé no chão.
Bom fudedor.
Bom de meninos.
Seus doze filhos,
seus vinte netos.
Vive dentro de mim o cabra safado.
Meu irmãozinho
tão desprezado,
tão murmurado.
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida - a vida mera dos obscuros.
Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida - a vida mera dos obscuros.
2 comentários:
Gostei daqui, voltarei.
Beijos
Seja bem vinda Júlia. A casinha é sua.
Postar um comentário