Invejo tanto a calma daqueles que tocam carros de boi.
Os vejo passar nas ruas colhendo lixos, papéis, ferros-velhos.
É uma argola, uma corda, um par de chifres, cangalha. Atada ao animal, uma carroça abarrotada de trastes desprezados pelos abastados, agora recolhidos e renascidos na esperança de um homem que anda descalço. Passos calmos, pés no chão, vara ao ombro.
É uma argola, uma corda, um par de chifres, cangalha. Atada ao animal, uma carroça abarrotada de trastes desprezados pelos abastados, agora recolhidos e renascidos na esperança de um homem que anda descalço. Passos calmos, pés no chão, vara ao ombro.
Por Deus, é uma calma tão sábia a calma desses homens; a calma do andar atrás da rês, que se faz ao lado de quando em vez; mas é atrás que anda. Não lhe encanta ser o primeiro, sabe que o seguir é o certo e caminha sem presa. O canto rangido, de rodas e eixo do carroção, é a expressão sonora e sem nexo do remoer de seus pensamentos, nada profundos de certo e sem maiores consequências. São só pensamentos.
O privilégio da ignorância os faz infantis em meio trânsito louco que se move em minutos, ao passo que, no seu passo, tudo são horas e horas de caminhar. Numa parada, recolhe mais uma esperança jogada nas ruas, acende um cigarro barato, de fumo ruim, e resona grave na garganta um “Booooi” respondido de pronto pelo andar do animal.
2 comentários:
Eu também tenho inveja deles, mas não sabia. Aprendi aqui contigo.
Oh Aninha que bom "ouvir" isso. É apenas um repassar de lições que ainda aprendo todos os dias. Beijo.
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