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Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

Escolha a dose.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cega

Aguardei em silêncio como caladas aguardam todas as verdadeiramente inocentes. Como se, sem ter a culpa, contássemos com a benevolência ao menos de um talvez.
Mas não. Ele parecia brincar outra vez com as minhas verdades. Faria caras de doído, de você não deveria ter dito aquilo, caras de doeu em mim enquanto sim, em mim, a dor era real e não a fingida como era a dele. Parecia o mesmo truque ordinário e já contumaz, onde me colocar na parede era a prática, o veto, a censura, o fique quieta porque você está errada.
No seu estalar de dedos eu estaria de volta. E ele faria outra vez e outra vez faria, e eu, por mais uma nova vez, diria sim. Diria sim ao que tenho e penso estar construindo, cravando as unhas numa realidade que só eu construí e da qual não me permito mudanças.
E ele sumiria e voltaria para me possuir num sorriso, num dos seus gestos, calculados ou não, que reconheço na raiz, mas contra os quais não tenho nãos.
Então eu olharia suas mãos, sua boca, seu jeito de falar. Me faria em paixão pelo que ele deveria ser, pelo que construí nele pra mim.
Cega ao que ele realmente é, eu o redesenho assim sem nada que não pode e não deve fazer parte de mim.
—Deixe meus olhos como estão, dói menos assim.


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