Nota:

Minha foto
Menino besta cheio de sonhos aprisonado no corpo de um homem sóbrio e cheio de desejos.

Escolha a dose.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Com sigo

   Sei de coisas minhas que nem eu mesmo deveria saber. Tenho dó de mim por não me guardar silêncio, por não me omitir os comentários, por não calar os pensamentos.
   Sei de coisas que não gostaria de ter tido o conhecimento, evitando assim, o sofrimento. Por apenas saber, já corro o risco da dor, não de fora para dentro, mas de dentro para mais dentro ainda.
   Sei de coisas que não deveria. Soam como prova do meu próprio despreparo para conviver comigo mesmo, a minha inexperiência, a minha fragilidade e esse saber inútil.
   Assim, empilho palavras para compor esse meu silêncio, sempre tardio, como se tardio fora sempre o meu falar.
   Um dia direi tudo isso a alguém para que nunca mais, tenha que ouvir isso tudo de mim mesmo.

.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Senha

Entrou na fila do amor mas, ela seria a última garota da fila.
Preferiu então pegar uma senha e sentar-se a esperar.
Tão triste e entretida na sua dor, não viu seu número ser chamado.
A última vez que eu a vi ela ainda estava lá, sentada,
esperando a senha.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Escreva-se

Ninguém aprende lição alguma se tudo lhe é ditado. A palavra dita é apenas a palavra alheia. Escreva seu próprio verbo com seu próprio punho. Escrevendo certo ou cometendo erros você aprende de verdade, principalmente se a tinta for a lágrima.

Abra-se

.



É o habito de fechar cortinas que nos faz esquecer o sol.


.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Olhe pra mim


   Nesse exato momento, oito e quarenta e cinco da noite, acabei de sair do meu chuveiro e abri a janela pensando no que tenho pra fazer amanhã.
   Pela janela, vi o resto do mundo sem que o mundo pudesse me ver:
   São 21:50 em Buenos Aires e Eva chora sentada no chão do chuveiro, relembrando em culpas, os momentos terríveis do aborto praticado mais cedo.
   6:24, Nova Deli. Abhaya, 12 anos, tempera abobrinha com pimenta para o desjejum, com o chá de cardamomo, enquanto agradece a Mahadevi, um deus.
   O velho Abadir, no leito de palhas em Atenas as 3:55, acorda assustado com a lembrança dos pára-quedistas alemães que ainda o assombram.
   Augustin também não dorme às 2:55. Olha o teto fixamente ao imaginar-se na praça de touros em Madri pela manhã.
   Li, de Pequim, matou uma galinha as 8:57. Era a última. Ela esperava vender no mercado, mas a fome falou mais alto.
   17:56, em Seattle, Anne Marie caminha com o frio da tarde, esperando não ser assaltada até chegar em casa.
   Em Dublin são 1 da manhã, Devlin, sentado na sala escura, olha a última pilha de batatas guardadas para uma sopa. Desde os atentados ele não arruma emprego. Seus filhos dormem.
   4 da madrugada, Cartum, Sudão, Sidding esconde a última barra de chocolate, salva das mãos de vizinhos, na luta por mantimentos atirados pelos pára-quedas da ONU.
   3 da tarde, em Honolulu, Malu devora sua quinta asa de franco sentada na frente da TV.
   Quase 8 da noite em Lima e Ruan ainda está limpando o altar, na Igreja de Miraflores, para a missa da manhã seguinte.
   Em Apia, 3 da tarde nas Ilhas Samoa, Drika finalmente morreu. Parentes e amigos estão de pé na porta da tenda tosca. Os homens açoitam-se e as mulheres choram em silêncio.
   11 e meia, perto de Adelaide, Gundoii, um aborígene, escolheu a sombra da última árvore como local ideal para esfolar o canguru abatido.
   E em Nuuk, Dinamarca, 10 da noite, a esperada Giselle finalmente nasceu. Ela tem Síndrome de Down e será muito amada por seus pais.

Por vezes, a gente consegue ver muito além das nossas janelas.
Por vezes, a gente consegue ver um mundo inteiro ao nosso redor.
Por vezes, a gente consegue ver alguém muito longe da gente.
Por tanto tenha certeza: Sempre, ao menos uma pessoa, está olhando pra você. Agora.


.

sábado, 19 de novembro de 2011

Tem gente

Tem gente que leva muito de você.
Tem gente que não leva nada.

Tem gente que deixa muito.
Só não tem quem não deixe nada.

.

Cada qual

Cada um vai ter de mim sempre o que cultivou.
Cada um vai ser em mim exatamente o que cativou.
Cada um vai ver em mim apenas o que sou.


.

Como eu gostaria

Gostaria de comer sem pensar na balança.
Gostaria de trabalhar como se não precisasse de dinheiro.
Gostaria de dar sem pensar em receber.
Gostaria de beber sem pensar na ressaca.
Gostaria de amar como se nunca tivesse sido magoado.
Gostaria de dançar como se não tivesse ninguém olhando.

Cuidado

O sucesso tem muitos pais mas a derrota só tem uma mãe.

Como um passarinho

Feliz é passarinho: Voa pra onde quer, canta suas próprias canções, não fala da vida alheia e caga sem se preocupar com o que está por baixo.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Valeu a intensão?

E o pior é que tem uma hora em que a gente percebe que tudo não passa de um desperdício de boas intensões, francamente viu?

Com o tempo

Ando a me transformar em saudades, em breve serei lembrança.
Um dia, quem sabe? Ausência.

Tou nem aí.

.

Não sinto a menor pena de quem diz não sentir nada.

.

Vida de Circo

Quando criança, pensei um dia em fugir com o circo.
Até que um dia foi o circo que fugiu de mim.

Aprendendo

      Na maioria das vezes prefiro mesmo os bons e poucos amigos como companhia.
     Mas sabe que outras vezes um pobre de espírito me faz um bem danado, acho que com eles aprendo a ser um humano melhor.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Diferente

   Eram ele e aquele paninho a fazer carinhos no velho balcão de cedro polido no óleo de peroba. O balcão, amigo silencioso e ouvinte passivo de seus pensamentos, era a única testemunha confiável dos seus últimos vinte e um anos de vida. Seu nome, Uélintom, escrito assim mesmo, era completamente desconhecido por todos, da mesma forma que era de um total desconhecimento a sua própria vida. Afinal, viver para ele, se tratava apenas da vida dos outros, daqueles que se sentavam do outro lado balcão. Da vida dele ninguém ali sabia ou se importava em saber.
   Ele? Ele era o primeiro a chegar e o último a sair do bar, bar que, aliás, já estava no terceiro nome, já havia trocado de equipe dezenas de vezes e sofrido algumas reformas. Só mesmo ele continuava o mesmo. Caladão, sorriso meigo, olhos de verde antigo, prestativo e elegante. Jamais havia sido visto sem a gravatinha preta, o colete e a cabeleira prateada penteada a esmero.
   -Ô Cabeleira!Bota mais uma aqui, por favor? – Para todos, ele era apenas o Cabeleira.
   Desabafos de corações partidos, festas de aniversário, descasadas carentes, despedidas de solteiro, galantes paqueradores, casais entediados, e o famoso “repiau”, como ele mesmo dizia, eram a sua vida. A vida dos outros.
   -Ô Cabeleira! Bota um chorinho aí vai?
   Ele botava um chorinho, lavava os copos e taças maculadas de batom, arrumava garrafas a meio ventre vazias; cortava rodelas simétricas de limão, enchia baldes sedentos de gelo e voltava ao cúmplice paninho. Polir o balcão era pra ele o único ato de carinho, carinho físico eu me refiro, era o único “tocar em alguém” e ele o alisava, horas como quem esfrega escadaria de igreja, horas como quem faz carinho na bunda gorda de uma velha esposa.

   Cabeleira era querido. Amado? Amado não, só querido. E era querido apenas por que ouvia. Ouvia como ninguém: Ouvia desabafos de corações partidos, o baterem de palmas nos “Parabéns Pra Você”, jovens senhoras carentes, nubentes esperançosos, “Don Ruans” fanfarrões, ouvia o silêncio do tédio de casais em crise e mesmo no Happy Hour, reservava-se apenas o direito de murmurar:
-É... Podia ter sido diferente, quem sabe? Não é verdade?
   Dois anos depois do dia em que Cabeleira não apareceu para trabalhar, quando já um novo barman, que fazia até mágicas e malabarismos com garrafas ocupara seu posto atrás do balcão empunhando um longo cabelo negro preso num rabo-de-cavalo, entrou no bar uma senhora. Entrou ansiosa, trazendo pela mão uma jovem de seus 20 anos com olhos de verde antigo e um papel na mão a conferir o endereço.
   -Boa tarde, eu queria falar com Wellington, por favor. – Disse ao novo gerente da tarde.
   - Queira me desculpar senhora, mas não trabalha ninguém aqui chamado Wellington.
   A jovem de olhos verde antigo tomou a mão da senhora de cabelos grisalhos entre as mãos e disse:
   - Vem mãe, você já procurou em todos os bares dessa cidade, não poderia ter sido diferente, não é verdade?
    Do fundo do balcão alguém gritou:
   - Ô Cabeleira, bota mais uma aqui, por favor?
   E a vida seguiu, diferente. Não é verdade?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Então

.


Se nunca seremos nós então, então serei apenas eu por hora.
Que eu consiga me bastar então, então estarei em paz por hora.
Um dia virá alguém então, então vai me fazer feliz por hora.
Não achei que iria ser assim então, então vou esquecer você ...


        pra sempre.


       Acabei de fazer isso... agora.



.